Educação indígena e interculturalidade: o exemplo de Campo Novo do Parecis (MT)

Neste artigo, você vai ler:
📌 Como Campo Novo do Parecis (MT) implementa uma educação bilíngue e intercultural para o povo Háliti-Paresi, unindo os saberes tradicionais aos materiais didáticos.
📌 O desafio de equilibrar a identidade cultural com a tecnologia e os “dois mundos”, garantindo que as crianças não percam suas raízes enquanto se conectam com novas realidades.
📌 A importância da troca de conhecimentos e do respeito às especificidades para criar uma aprendizagem significativa, que valoriza a língua materna, a cultura e os anciãos da comunidade.
📌 Crédito das fotos: professora Valdirene Avelino Zakenaezokero (1 e 2) e professora Liliane Padilha (3).

Um dos maiores desafios e uma das maiores riquezas da educação brasileira é a sua diversidade cultural. Em um país tão complexo e colorido, construir a educação requer conhecimento, sensibilidade e um olhar de conexão e compartilhamento. Campo Novo do Parecis, parceiro Opet no oeste de Mato Grosso, é um exemplo concreto disso! Lá, a rede municipal de ensino abrange os estudantes de 20 aldeias da etnia Háliti-Paresi.
Ao todo, os 2.750 indígenas da etnia vivem em 89 aldeias em sete municípios da região – Campo Novo do Parecis, Tangará da Serra, Sapezal, Campo de Júlio, Conquista do Oeste, Barra do Bugres e Nova Marilândia. Em Campo Novo do Parecis, as crianças da Educação Infantil utilizam os materiais didáticos e recursos da Editora Opet. As soluções também estão nas escolas indígenas, onde atuam 16 professores nativos que oferecem educação em um ambiente bilíngue.

Uma formação intercultural: a professora Valdirene Avelino Zakenaezokero com seus estudantes.

Desafio

Claudiane Quezo Zaezaé, indígena Háliti-Paresi, é pedagoga e diretora de Educação Indígena em Campo Novo do Parecis. Segundo ela, a educação das crianças e adolescentes indígenas é desafiadora por muitos motivos, começando pelos históricos. “É importante que os livros didáticos deem importância aos povos indígenas, que mostrem o passado e o presente”, observa.
“Há Estados em que as pessoas não nos conhecem e não sabem que existimos. Não é preciso que nos conheçam, mas sim que saibam, da forma correta, que nós existimos”, destaca. Ela fundamenta essa opinião observando que só em Mato Grosso existem 43 povos indígenas com suas línguas e culturas, e que também há etnias vindas de outros Estados para a região.

Oportunidade de avançar

Claudiane diz que Campo Novo do Parecis realiza um bom trabalho com a educação indígena. “O município é parceiro e nos dá autonomia”, observa. Sobre a Editora Opet, ela observa que os livros são importantes para o trabalho com a Educação Infantil, e que as formações pedagógicas são uma oportunidade de aprender e de trocar conhecimentos.
E finaliza observando que, nos últimos anos, a Educação Indígena ganhou materialidade com leis e portarias que garantem aos professores indígenas o direito de trabalhar do seu jeito, com o olhar de quem vive a realidade de dentro. “Só temos que saber interpretar e trabalhar”.

Cultura e a identidade

“O desafio da educação escolar é incentivar os alunos a não esquecerem da nossa cultura e identidade devido à tecnologia e à internet”, avalia a professora Valdirene Avelino Zakenaezokero, Háliti-Paresi líder em sua comunidade. “Devemos viver em dois mundos, mas sem jamais perder nossa essência.”
Para ela, o trabalho com a educação indígena é um caminho para a preservação e o florescimento da cultura. E o trabalho formativo da Editora desempenha um papel importante nisso. “As formações são maravilhosas! As formadoras sempre destacam a educação indígena em um contexto atual, e os materiais didáticos estão de acordo com os preceitos da educação indígena.

Riqueza e repertório

Edilaine Mendonça de Paula Machado é diretora do Departamento de Educação Infantil de Campo Novo do Parecis, atuando com os professores nas escolas das aldeias e da cidade. Ela reforça a importância da interculturalidade.
“Estamos sempre buscando ampliar o repertório”, conta. Nesse processo, a comunidade indígena é de grande valor, por exemplo, na figura dos anciãos, que preservam a língua e a cultura e as transmitem para as novas gerações.
Edilaine destaca o valor das trocas e intercâmbios culturais que envolvem estudantes indígenas e não indígenas, com visitas e momentos de conhecimento. “O uso de elementos da natureza e materiais não estruturados no processo educacional, por exemplo, também desperta a atenção dos professores.”

A vivência da cultura na educação é um dos elementos fundamentais entre os Háliti-Paresi.

Aprender sempre

As formações pedagógicas permitem ampliar a compreensão e o repertório dos professores em relação aos materiais didáticos e recursos, e também possibilitam uma construção conjunta da educação. São momentos de trocas culturais que ganham ainda mais força no caso do trabalho com os professores indígenas.
Liliane Padilha é formadora Opet e, recentemente, esteve em Campo Novo do Parecis com os professores em uma escola da área urbana e para uma visita técnica a uma das escolas indígenas com atendimento da Educação Infantil.
Para ela, o trabalho com os professores indígenas é muito compensador. “A educação indígena é intercultural. Ela envolve as culturas indígena e não indígena. O professor tem a missão de ensinar as duas línguas e, consequentemente, as duas realidades para as crianças”, observa. E é aí que o processo ganha em riqueza e complexidade.
“O que muda no trabalho é a forma como as aprendizagens são ressignificadas. As crianças utilizam nosso material a partir de seus referenciais culturais e de sua realidade, que são distintos”, explica Liliane. “Fazemos uma aproximação entre as propostas trazidas no material didático e a língua materna, as tradições e os costumes da aldeia. E isso dá ainda mais potência à aprendizagem”, resume.

Liliane Padilha, formadora: trabalho com a educação indígena é altamente compensador.

Vivência única

Sobre o trabalho com os professores, ela percebe seu papel na preservação da cultura Háliti-Paresi. “Eles se veem como responsáveis pela preservação da cultura e, ao mesmo tempo, pelo acesso das crianças a novos conhecimentos. E cuidam para que o sistema respeite as especificidades culturais, principalmente no que se refere à língua e às tradições. Também demonstram abertura para dialogar e construir juntos, desde que este diálogo seja feito com respeito e valorização da identidade do povo.”
E as crianças? Segundo Liliane, é, sempre, emocionante acompanhá-las em sua relação com as vivências culturais, a natureza e os materiais didáticos. “Essa integração torna a aprendizagem ainda mais significativa porque respeita a identidade das crianças e valoriza o que elas têm de mais precioso: suas raízes, seus saberes e sua forma única de viver o mundo”, avalia.
“E é incrível ver até onde chega a Coleção Entrelinhas para Você e, também, a potência de um material composto por propostas e experiências que permitem que as crianças, mesmo em um contexto cultural tão diferente, transcrevam esses aprendizados para o seu dia a dia.”