
Você já parou para pensar no impacto das festas juninas na vida brasileira? Ele é gigantesco! Podemos afirmar, mesmo, que elas são o “grande festival brasileiro”, comparável ao Festival chinês do Meio Outono, à Oktoberfest alemã e à celebração do Solstício de Verão nos países nórdicos. Festas que se conectam a partir dos ciclos da natureza e que têm tudo a ver com a cultura, o conhecimento, a sabedoria popular e, é claro, com a EDUCAÇÃO.
A riqueza da festa
Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que, por ano, as festas juninas movimentam algo como R$ 2 bilhões no Brasil. O valor, que tende a crescer, aponta a dimensão dessas celebrações para a nossa sociedade. Elas não só são muito tradicionais, como também se modernizaram como grandes eventos – como os de Campina Grande (PB), Caruaru (PE), Aracaju (SE), Salvador (BA), São Luís (MA) e Palmas (TO). E aparecem em todas as regiões do país, nas cidades, paróquias, escolas e em família. E são um verdadeiro mosaico da identidade brasileira, cujos elementos merecem ser percebidos e destacados em seu valor cultural.
Eles são, enfim, conhecimento – e é isto que nos interessa neste artigo! Então, pegue seu chapéu e venha com a gente!

Toda cor das festas juninas
Fogueira, música, quadrilha, bandeirinhas, brincadeiras, comidas deliciosas, bombinhas, roupas típicas e muita gente animada curtindo muito tudo isto. Essa bem poderia ser uma descrição rápida das festas juninas no Brasil. A ela, poderíamos acrescentar cores – os tons quentes das fogueiras e, também, o negro da noite e do inverno. Um contraste inesquecível!

Uma celebração global
Mas, de onde vem tudo isso? De muitos lugares! A base é a tradição católica romana, de santos de grande prestígio popular e que são comemorados em junho: Santo Antônio (dia 13), São João (24) e São Pedro (29). Essas celebrações, aliás, são bem antigas – São João e São Pedro “acendem fogueira” desde o século VI; Santo Antônio, desde o século XII! Elas chegaram aqui com os portugueses no século XVI.
Há, porém, um ponto a considerar: apesar de sua motivação cristã – a mais aparente –, as festas juninas têm uma origem ainda mais antiga. Você se lembra de que, na abertura deste artigo, falamos em “ciclos da natureza”? Pois é: antes dos santos, as civilizações do Hemisfério Norte (como os romanos e os celtas) já faziam “festões” nessa mesma época do ano. Elas eram ligadas ao Solstício de Verão, ao “retorno da luz” e à chegada da estação mais quente do ano. E se relacionavam, é claro, às divindades que esses povos veneravam.
Vale observar que, entre nós, no Hemisfério Sul, esse “motivo mais antigo” da festa não funciona, e por um simples motivo: aqui, a estação que está chegando em junho é o inverno. Ou seja: sem que a gente se dê conta disso, comemora um festival de verão… em plena estação fria!
O que não é nenhum problema, até porque a motivação principal já não é a estação, mas a comemoração dos santos. E ainda temos uma vantagem: como acabamos de passar pelo outono, estamos com os celeiros cheios de grãos de milho e amendoim, culturas típicas da América que viram comidas deliciosas!
Em resumo: mesmo que o clima seja outro, o espírito de celebração permanece — e se adapta ao nosso contexto com criatividade e sabor.
Uma festa de todo o mundo
Muito bem: algumas linhas acima, falamos de milho e amendoim – e ficamos com água na boca. Eita, coisa boa! Acontece, porém, que ambos são produtos típicos… da América. Eles foram domesticados e cultivados pelos povos originários daqui há milhares de anos e, pelo menos até o século XVI, não “davam as caras” nas festas juninas. Não tinha como!
Aqui, temos um indício fortíssimo da principal característica da celebração em nosso país: sua transculturalidade. O que significa que, mais do que uma “festa de santo”, é uma festa formada pelas contribuições culturais de diversos povos, de muitas civilizações. O aspecto religioso é uma dessas contribuições; assim como a alimentação, as roupas, as danças e as brincadeiras – e isto é maravilhoso!
Pense, por exemplo, nas bombinhas e nos rojões. De onde eles vêm? Da China, civilização que inventou a pólvora no século XI!
Agora, lembre-se da chita dos vestidos juninos – pois saiba que este tecido de algodão colorido, tão bonito, é originário da Índia! Ele era trazido ao Brasil Colônia pelos portugueses, que também tinham negócios e territórios lá longe, do outro lado do mundo. Aliás, a palavra “chita” vem do sânscrito “chitra”, que significa “colorido” ou “pintado”.

Ah, e tem a quadrilha! Que veio da França no século XVIII. Lá, era a “quadrille française”, chiquérrima. Pois a família imperial portuguesa era adepta da dança e, em 1808, lançou a moda aqui. E ela acabou incorporada às festas juninas!
E o que dizer, então, das contribuições africanas? São muitas: nos instrumentos de percussão, nos refrões juninos que repetem as canções de trabalho dos escravizados, nos reizados e na corporalidade da dança.

Aquela festa na escola…
Aí, sim! Se as festas juninas já são, por si, muito legais, elas ficam ainda melhores quando são realizadas pelas escolas, envolvendo toda a comunidade. Dão um trabalho danado (sim, dão!), mas são uma expressão poderosa de união, alegria e capacidade de trabalho. E isso só acontece porque, como vimos, elas são cultura pura, conhecimento – e isto interessa diretamente à educação. Mas, como trabalhar seus conteúdos? São muitas as possibilidades! E nós vamos trabalhar com duas delas.
História em movimento
Uma boa alternativa para abordar a origem das festas são as gincanas. Elas pedem orientação e pesquisa prévia, e podem ser materializadas de diferentes formas: em jogos de perguntas e respostas, desafios, rodas de conversa, quizzes, entrevistas com convidados, podcasts, entrevistas e mais.
Por exemplo: na gincana, uma turma pode ser desafiada a criar um podcast entrevistando os avós sobre as festas juninas do passado. Com isso, além de resgatar memórias, os alunos trabalham oralidade, escuta ativa e história.
O caminho, como você pode perceber, é o da sala de aula invertida – e do protagonismo dos estudantes.

Movimento… no movimento!
As festas juninas são “corporais”, ou seja, elas envolvem movimento, envolvem gente! Nas brincadeiras, nos jogos, nas danças e no casamento caipira. Cada um desses elementos pode ser investigado pelos estudantes. Cada um pode ser organizado, interpretado, encenado — e percebido como uma contribuição concreta para a comunidade escolar.
E essa corporeidade, é claro, não vem sozinha – junto com ela vem a arte, que também pode ser trabalhada. Nos temas, nos materiais, na origem dos elementos e até na gestão dos recursos. Que tal, por exemplo, convidar seus estudantes a organizarem a quadrilha da festa junina? Ou o cenário? E como administrar os recursos para a aquisição dos materiais? Que tal, enfim, transformar essa tarefa em um projeto colaborativo de arte, cultura e planejamento?
Viva os saberes juninos!
Como vimos, as festas juninas são muito mais do que tradição: são uma poderosa ferramenta de aprendizagem, expressão e construção coletiva. Ao valorizá-las dentro da escola, reconhecemos o conhecimento que pulsa no cotidiano, no corpo, na cultura e nas relações humanas. E damos sentido ao que é, de fato, educar: conectar, celebrar, transformar.

Para ir mais longe
🔗 Página do Instagram do Museu do Folclore Edison Carneiro (IPHAN) – O museu possui um acervo digital riquíssimo sobre cultura popular brasileira, incluindo festas, danças e tradições orais.
🔗 Museu da Pessoa – Projeto colaborativo que reúne histórias de vida, muitas delas relacionadas a festas populares e tradições locais. Ótimo para trabalhar oralidade e memória.
🔗 Museu Nacional – Acervo online (UFRJ) – Embora voltado a diversas áreas, há coleções e documentos que dialogam com antropologia, história e cultura popular.
🔗 IPHAN – Dossiê das Matrizes Tradicionais do Forró (busque por “Forró” ou “Festas Juninas”) – Documentos oficiais sobre o registro do forró como patrimônio cultural brasileiro, com menção às festas juninas.
🔗 Museu do Folclore de São José dos Campos (SP) – Exposições virtuais sobre festas juninas e oficinas pedagógicas para escolas.