No dia 19 de junho é comemorado o Dia Nacional do Cinema Brasileiro. A data marca o primeiro registro de imagens em movimento do país, feitas pelo cinegrafista e diretor Afonso Segreto em 1898. A obra foi um documentário sobre a Baia de Guanabara, exibido na inauguração do Salão Novidades de Paris, no Rio de Janeiro. Desde então, o cinema brasileiro construiu um conjunto de obras rico e original, reconhecido e prestigiado mundialmente.
Fases e interfaces do cinema brasileiro – Os documentários foram as primeiras produções brasileiras. Compostos por imagens fotográficas em movimento e seguindo boa parte do que vinha sendo feito em outros países, eles registravam acontecimentos históricos, atos oficiais e cerimônias. Eram apresentados em sessões “mudas” – o cinema, então, não tinha som – ou, então, com o acompanhamento de músicos.
A partir da década de 1920, as obras de ficção “Na primavera da Vida” e “Os Três Irmãos”, de Humberto Mauro, inauguraram uma leva de produções nacionais pautadas em histórias. Em 1929, “Limite”, filmado por Mário Peixoto, foi o primeiro filme brasileiro totalmente sonorizado.
Em 1930 é instalado o primeiro estúdio de cinema do Brasil, o Cinédia. Criado por Adhemar Gonzaga, produzia comédias musicais e dramas populares. Em 1941, a produtora Atlântida, fundada por Moacir Fenelon e José Carlos Burle, fez sucesso com o gênero chanchada – histórias engraçadas, com tipos bem brasileiros. Em 1949, nascia a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, fundada pelos amigos Franco Zampari e Francisco Matarazzo para trazer ao cinema brasileiro um padrão de produção hollywoodiano, de grandes estúdios e uma cenografia mais elaborada e grandiosa.
Por volta de 1960, inspirado no Neorrealismo italiano e na Nouvelle Vague (Nova Onda) francesa, surgiu o Cinema Novo. Os “veteranos” Nelson Pereira dos Santos e Roberto dos Santos e os iniciantes Glauber Rocha, Arnaldo Jabor e Joaquim Pedro de Andrade, entre outros, foram os principais nomes desse movi-mento. Com histórias intensas e uma estética ao mesmo tempo crua e requintada, o Cinema Novo tinha como temas preferido o Nordeste e as favelas do Rio de Janeiro, o que chocava (e atraía) a classe média brasileira e o público estrangeiro. Em 1964, ano do golpe militar, o Cinema Novo muda seu foco mas continua falando sobre o Brasil.
Em setembro de 1969 era criada a Empresa Brasileira de Filmes – Embrafilme, que teve extrema importância para o cinema nacional. Durante toda a década de 1970, a Embrafilme realizou produções que fizeram a história da cinematografia brasileira. Mas, na década de 1980, a empresa começa a declinar até sua total queda e fechamento, em 1990. Com isso, a produção cinematográfica se estagnou até 1995, ano que marca uma retomada do cinema brasileiro.
Carlota Joaquina: Princesa do Brasil”, dirigido por Carla Camurati, é o ponto inicial desse período. O filme abriu caminho para uma série de produções que conquistaram não só o público, mas também reconhecimento e prêmios internacionais.
Desde então, o cinema brasileiro seguiu produzindo bastante e bem. Comédias leves ambientadas no meio urbano, por exemplo, são um grande sucesso de público, assim como produções intimistas, animações e, mais recentemente, filmes policiais e de ficção científica financiados e difundidos por plataformas de streaming como a Netflix.
A sétima arte na sala de aula – A produção artística de um país é a expressão das angústias, alegrias e histórias de seu povo. Muito mais do que imagens em movimento, o cinema pode representar a reconstrução subjetiva de uma realidade, a exaltação de elementos e significados culturais ou a verbalização artística de discursos e debates sociais.
Com tantos elementos e tanta riqueza, o cinema pode ser utilizado como uma poderosa ferramenta didática. Os filmes atraem a atenção e, ao mesmo tempo, podem fomentar reflexões essenciais para o desenvolvimento cidadão dos estudantes, além de explorar conteúdos contemplados pelo currículo de forma mais dinâmica e interativa.
A arte reúne expressão criativa, política, social e emocional. O cinema traz todos esses aspectos em narrativas audiovisuais que são recebidas com simpatia e identificação pelas pessoas. Por isso, ao lado da música, é uma expressão artística popular capaz de comunicar-se amplamente com diversos públicos.
Levar o cinema para a sala de aula – seja ela presencial ou digital – pode engajar os estudantes em relação aos conteúdos e às discussões, estimulando seu desenvolvimento intelectual, aguçando sua criatividade e aumentando sua consciência em relação aos temas de estudo.
Listamos 5 produções brasileiras que trazem debates relevantes em relação à conteúdos curriculares. As sugestões de abordagens são mais genéricas, para que o professor se sinta livre para desenvolver as atividades de acordo com as especificidades de sua turma.
1 – “Olga” (Drama, 2004) – Baseado na obra de Fernando Morais, dirigido por Jayme Monjardim.
Conteúdos: Brasil do século XX, Alemanha nazista, governo Vargas, Coluna Prestes.
2 – “Saneamento Básico” (Comédia, 2007) – De Jorge Furtado.
Conteúdos: Brasil contemporâneo, organização do Estado Brasileiro, relações Estado-sociedade.
3 – “Auto da Compadecida” (Aventura, 2000) – Baseado na obra de Ariano Suassuna, dirigido por Guel Arraes
Conteúdos: tradições brasileiras, religiosidade popular, organização da sociedade brasileira, Brasil rural.
4 – “O Cangaceiro” (Aventura, 1953) – De Lima Barreto, com diálogos criados por Rachel de Queiroz.
Conteúdos: Cangaço, cultura nordestina, relações de poder.
5 – “Edifício Master” (Documentário, 2002) – De Eduardo Coutinho.
Conteúdos: Brasil urbano, sociabilidades, conflitos sociais, moradia.
Sugestões de leitura:
Cinema como proposta educativa – Lúcia Fernanda da Silva Prado.
https://www.sociologialemos.pro.br/wp-content/uploads/2019/03/CINEMA-COMO-PROPOSTA-EDUCATIVA.pdf
Utilização do cinema em sala de aula – Fernando de Moraes Toller e Vânia de Fátima Martino.
https://www.franca.unesp.br/Home/Pos-graduacao/-planejamentoeanalisedepoliticaspublicas/iisippedes2016/a-utilizacao-do-cinema-em-sala-de-aula-_1_.pdf