Nas últimas semanas, a imprensa destacou temas relacionados à qualidade da produção editorial voltada à educação no Brasil. Um desses temas foi o do papel das fontes – bibliográficas, imagéticas, digitais – na construção dos livros escolares. Afinal, qual a importância da bibliografia para a qualidade e para a coerência de um livro utilizado por professores e estudantes? Qual a importância da indicação dessas obras nos próprios livros? Qual a importância de se referenciar as imagens que ilustram as obras? Na Editora Opet, essas questões são vistas como fundamentais. Tanto, que as etapas da produção – entre elas, a da análise das fontes de uma única coleção – envolvem nada menos do que 14 profissionais, dos próprios autores ao diretor de produto.
Nessa entrevista, a gerente editorial da Editora Opet, Eloiza Jaguelte Silva, explica como funciona o nosso trabalho com as fontes e qual sua importância para que nossas coleções educacionais estejam entre as mais avançadas do país. Confira!
Entrevista a Rodrigo Wolff Apolloni
Antes de chegar às fontes, é interessante falar um pouco sobre os autores. Quais são os critérios da Editora Opet para a escolha dos autores das nossas coleções?
Eloiza – Em primeiro lugar, é definida a demanda da Editora. Ou seja, para qual segmento será a nova produção. A partir dessa definição, é selecionado um profissional que deve ter o perfil para o trabalho: conhecer profundamente o público para o qual a obra se destina, ter experiência de sala de aula e uma boa formação teórica. É importante que se estabeleça uma parceria autor-Editora que favoreça o processo. Por isso, é desejável que o autor já tenha experiência na produção de material didático, que seja da área específica, que tenha disponibilidade para participar de reuniões de estudo para conhecer a proposta teórico-metodológica da Editora, assim como conhecer os demais autores e discutir a proposta da coleção (conceitos e temas integradores), a fim de elaborar seu plano de obra (o planejamento estrutural). É importante, também, que ele possa cumprir os prazos definidos para todas as etapas da produção. Nesse momento, aliás, o autor recebe um documento oficial da Editora com orientações gerais para a produção dos originais.
De que maneira esses profissionais, os autores, se servem das fontes? Em que essas fontes – livros, referenciais teóricos, documentos – colaboram para a construção de uma obra?
Eloiza – As fontes utilizadas pelos autores devem ser oficiais e atualizadas para que contribuam efetivamente à produção, trazendo informações relevantes que agreguem valor e deem credibilidade ao material didático. Para isso, o autor deve, preferencialmente, atuar ou já ter atuado na área, estar atualizado em relação aos documentos oficiais e demais obras do mercado, entre elas as aprovadas nos Programas Nacionais do Livro Didático (PNLD) do Ministério da Educação (MEC).
A indicação das fontes também ajuda a Editora a perceber elementos como a coerência e a qualidade do trabalho?
Eloiza – Sem dúvida. Ao analisar um material didático, as referências utilizadas pelo autor já indicam o posicionamento teórico-metodológico que dará embasamento ao trabalho. É um bom momento para verificar algumas questões, como a atualização frente às discussões da área de educação.
Por meio das referências indicadas pelo autor podemos saber, por exemplo, se os referenciais usados por ele são os mais recentes, se são clássicos ou se estão defasados?
Eloiza – Sim. Por isso é importante a realização dos estudos iniciais que já direcionam o autor para uma produção que atenda aos princípios definidos pela Editora em suas diretrizes teórico-metodológicas. Ou seja, o referencial teórico no qual o autor se pauta se traduz na produção do conteúdo e das atividades propostas no material didático. Esse é o momento para intervir e solicitar novos direcionamentos, especialmente porque contamos com analistas críticos e consultores pedagógicos que analisam as produções em paralelo à escrita e podem indicar outras abordagens, diferentes possibilidades e até mudanças mais significativas. O autor deve estar aberto a receber as sugestões e fazer as adequações necessárias.
É possível afirmar que, para os usuários do material – em especial, os professores –, a indicação de referências amplia o leque de possibilidades de reflexão e trabalho em sala de aula?
Eloiza – Certamente. A produção do material didático é limitada pelo número de páginas. Sendo assim, nem tudo será contemplado em suas páginas. O professor e os alunos podem e devem ir além em seus estudos para o aprofundamento das temáticas. O material pode ser o início de outras produções que vão acontecer na sala de aula à medida que surjam novos interesses e necessidades dos estudantes.
Os livros seguem sendo as principais fontes de referência dos nossos autores? Como você percebe a utilização de outras plataformas como referência, como documentos digitais, portais, estatísticas e normas legais?
Eloiza – Hoje em dia, o autor deve atentar para a grande variedade de informações a que tem acesso e se debruçar sobre elas para se qualificar e aperfeiçoar diariamente. A velocidade da produção do conhecimento é muito grande e não há como se restringir apenas aos livros. Mesmo assim, eles continuam a ter uma grande influência nas produções.
Na Editora, como nós lidamos com as fontes indicadas pelos autores? Como é feito o trabalho de verificação dessas fontes?
Eloiza – A Editora tem o setor de Patrimônio Intelectual para pesquisar todas as fontes indicadas e solicitar autorização de uso. Todos os textos de terceiros que aparecem nas obras têm autorização de uso, assim como imagens, gráficos, tabelas e mapas; sendo que os mapas são produzidos por cartógrafos dentro das normas oficiais.
Qual a relação da iconografia dos materiais com as fontes? Toda iconografia deve ser precedida ou ter indicada a sua fonte, certo?
Eloiza – Sim. Atualmente, utilizamos uma estratégia que tem se mostrado muito eficiente. O autor, no início do seu trabalho, enquanto está produzindo o plano da obra, seleciona todos os textos e imagens que pretende utilizar e nos fornece as referências completas. O setor de Patrimônio Intelectual faz a pesquisa para saber se estes poderão ser utilizados com pagamento ou não de direito autoral. Com textos liberados, imagens pesquisadas, o autor pode produzir suas unidades com mais segurança, pois sabe que tem autorização de uso. Dessa forma, os autores e a editora ganham tempo e qualidade nas produções. As referências devem ser completas e atualizadas.
Com base apenas na leitura das fontes indicadas por nossos autores, podemos afirmar que nossas coleções são avançadas em relação à educação?
Eloiza – São coleções atualizadas e alinhadas aos documentos oficiais e às discussões da área de educação. Há uma preocupação com a atualização dos textos e das informações que estarão nos materiais didáticos. Por outro lado, muitos textos são clássicos e atemporais, devendo ser apresentados aos estudantes. O mesmo acontece com obras de arte e imagens que valorizam as produções.