#FuturoPresente – Desextinção de espécies: uma conquista… ou um perigo?

Em 1916, Charles Knight pintou o que seria uma manada de mamutes-lanosos. Cientistas querem transformar essa representação em realidade por meio da desextinção. Fonte: Wikipedia.

Você já ouviu falar em “desextinção”? A palavra ainda não chegou ao dicionário, mas já faz parte das conversas e estudos de um grupo de cientistas ligados à área biológica. E, nos próximos anos, ela pode fazer parte da realidade – com consequências que ainda estão sendo avaliadas. Vamos explorar mais o assunto? Siga conosco!

Desextinção

Como o próprio nome indica, a palavra desextinção se refere ao processo artificial de produzir organismos que se assemelham a espécies extintas naturalmente ou pela ação humana, por meio de técnicas como clonagem, edição genética (CRISPR) ou seleção genética.  

De dinossauros a mamutes, de aves como o pássaro dodô a mamíferos como o tigre dente-de-sabre, todas essas espécies, EM TESE, poderiam ser “revividas” e até mesmo reintroduzidas na natureza. E essa possibilidade só passou a ser considerada porque, nas últimas décadas, houve avanços muito importantes nas áreas da genética, da paleontologia e das biotecnologias. Mas, será que é uma boa ideia?

O Velociraptor e o sonho da desextinção

Fonte: Wikipedia.

Em 1993, pessoas em todo o mundo passaram a conhecer um novo tipo de dinossauro, que, de certa forma, substituiu o Tiranossauro Rex (Tyrannosaurus rex) no imaginário dos monstros do passado: o Velociraptor (Velociraptor antirrhopus), fera do período Cretáceo que literalmente “apavorou” as plateias do filme “Jurassic Park”, dirigido por Steven Spielberg (pôster ao lado).

Muito mais do que apresentar um novo dinossauro (e outros mais), porém, o filme fez chegar ao grande público uma ideia que já rondava os cérebros de um grupo de cientistas: ressuscitar espécies extintas usando elementos biológicos e alta tecnologia.

A película, é claro, exagerava bastante as possibilidades e as conquistas científicas (a clonagem de dinossauros ainda é praticamente impossível por motivos que veremos à frente), mas, em certa medida, deixou antever um futuro razoavelmente possível. Com a melhoria das técnicas, novas tecnologias e até com mudanças legais, é válido pensar que, em algumas décadas, teremos, de fato, animais e até mesmo espécies inteiras “renascidas”. Para algumas delas, as possibilidades são maiores; para outras, menores. Vamos saber mais.

Quando tudo começou

Falar sobre as possibilidades de desextinção de espécies só é possível graças à descoberta da chamada estrutura de dupla hélice do DNA, em 1953 pelos cientistas Francis Crick (Inglaterra) e James Watson (Estados Unidos). Eles, aliás, receberam o Prêmio Nobel de 1962, em Medicina e Fisiologia, graças a este estudo – um reconhecimento 100% merecido! Outra cientista essencial nessa descoberta foi a química inglesa Rosalind Elsie Franklin, cujos estudos sobre estruturas moleculares ajudaram muito na compreensão da “molécula da vida”.

Rosalind Franklin, Francis Crick e James Watson: os “pais da matéria” no campo dos estudos genéticos. Fonte: Wikipedia.

Conhecer o DNA ou ácido desoxirribonucleico – molécula que contém as informações genéticas de todos os seres vivos e é responsável por determinar as características individuais de cada espécie – abriu um campo de pesquisas gigantesco, das doenças genéticas e sua cura à criminologia. Hoje, graças à genética, as pessoas podem conhecer suas origens mais remotas e também algumas doenças de que poderão vir a sofrer no futuro. As aplicações desse novo campo da ciência, porém, vão muito mais longe!

O “segredo” da desextinção reside na manipulação genética com técnicas de “editam”, “costuram” ou “somam” genes ao DNA. Fonte: Getty Images.

Trabalhando com o DNA

Depois de conhecer o DNA – e o DNA da nossa própria espécie, que foi inteiramente sequenciado no ano de 2003, pelo Projeto Genoma Humano –, os cientistas passaram a buscar formas de chegar até ele para corrigir eventuais configurações responsáveis pelas doenças genéticas. Entre essas doenças estão a anemia falciforme, a fibrose cística, a fenilcetonúria e a hemofilia tipo A, que afetam milhões de pessoas em todo o mundo.

Nesse processo surgiram as duas principais técnicas utilizadas atualmente: a terapia genética e a edição de genes.

Representação artística da edição genômica. Fonte: Programa de Educação Genômica, Departamento de Saúde do Reino Unido.

Em termos simples, a terapia genética envolve a inserção de genes funcionais em um organismo para substituir ou complementar genes defeituosos – isto pode ser feito por meio de vírus modificados, que funcionam como vetores para “entregar” o DNA.

E a edição de genes envolve a modificação direta do DNA existente, que é seccionado e tem sequências específicas corrigidas. O chamado CRISPR-Cas9 é a técnica mais conhecida e precisa.

Embora essas técnicas sejam amplamente utilizadas na medicina, elas também estão sendo estudadas como ferramentas para um objetivo ainda mais ousado: trazer de volta espécies extintas.

Desafio de Costura”

“Operar” genes adicionando peças ao quebra-cabeça ou editando sequências não é uma tarefa fácil, simples ou barata. No caso dos projetos de desextinção, há, ainda, um complicador: o fato de que, com o passar do tempo, as estruturas genéticas – o DNA – também se alteram e decaem.

Em termos figurativos, seria algo como recortar ou remendar uma peça de tecido. Se ela está inteira e forte, é possível costurar sem grandes problemas; se, porém, está fragilizada – rasgada ou apodrecida –, é muito mais difícil! Como incorporar remendos, por exemplo? Como costurar um tecido que está se quase desmanchando?

Agora, imagine um “tecido” – uma sequência de DNA – que tenha 80 milhões de anos (como a de um velociraptor) ou “apenas” seis mil anos (como a de um mamute-lanoso). Ambos um dia estiveram intactos, mas, ao longo do tempo, sofreram um lento e contínuo processo de degradação que envolve fatores ambientais. Será que, com as tecnologias e as metodologias disponíveis atualmente, é possível “costurá-las” para recuperar o “tecido” original – o ser vivo extinto? Essa é a grande questão que intriga os cientistas da desextinção até hoje!

Projetos em andamento

Como vimos, a integridade do DNA – do “tecido da vida” a que nos referimos – é fundamental para o eventual sucesso dos projetos de desextinção. O que implica afirmar que, quanto mais antiga a amostra, ou quanto menos disponível ela estiver, mais difícil será ter sucesso no processo. O que, pensando nos dinossauros ferozes de “Jurassic Park”, talvez seja uma boa notícia…

Observado esse ponto, chegamos aos projetos que estão em andamento. Vamos focar em um deles que é emblemático porque se liga tanto à pré-história quanto ao papel humano na extinção.

Antes, porém…

Vamos responder a uma pergunta-central: algum animal já foi desextinto? Sim. Em 2003, utilizando técnicas semelhantes às usadas para a clonagem da ovelha Dolly, cientistas espanhóis e franceses conseguiram reproduzir um íbex-dos-pirineus ou bucardo (Capra pyrenaica pyrenaica), espécie extinta havia muito pouco tempo. Em virtude de problemas pulmonares, porém, o filhote sobreviveu por apenas algumas horas.

Íbex-dos-pirineus, primeiro animal a ser desextinto. O sucesso do projeto, porém, foi relativo. Fonte: Wikipedia.

A volta do mamute-lanoso

Voltemos ao projeto em andamento: ele é desenvolvido por cientistas da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e quer reviver o mamute-lanoso (Mammuthus primigenius), extinto há cerca de 4 mil anos pela ação dos nossos antepassados.

A técnica utilizada, nesse caso, se baseia na edição genética de células do elefante asiático, que é muito semelhante aos ancestrais peludos. Na medida em que existem muitos restos de mamutes-lanosos – descobertos na tundra, inclusive em virtude do aquecimento global –, as chances de se encontrar de DNA preservado são grandes. Esse DNA, ao ser sequenciado, oferecerá um “mapa” para a edição genética do DNA dos elefantes asiáticos.

“Rato-lanoso”, criado em laboratório pela manipulação de genes para torná-lo semelhante, em pelagem, aos mamutes-lanosos. Fonte: Wikipedia/Nature.

A pesquisa está caminhando bem. O maior desafio está na produção de um útero artificial que possa receber os embriões da “nova-velha” espécie.

Mas, por que clonar o mamute-lanoso? Os cientistas apontam dois motivos: 1) – ao ser reintroduzidos na natureza, os animais poderiam ajudar a proteger um bioma, a tundra, muito fragilizado atualmente; e 2) – a pesquisa também ajuda a fornecer dados sobre o elefante asiático, espécie que intriga os cientistas por apresentar uma baixíssima incidência de câncer – ao conhecer os fatores por trás desta resistência, seria possível descobrir caminhos para prevenir e tratar o câncer entre os seres humanos.

Possibilidades e desafios éticos

Não há dúvida de que a desextinção é um tema científico fascinante. Ao mesmo tempo, porém, ele gera dúvidas, apreensões e questões éticas. Isso porque, em certa medida, a possibilidade de fazer espécies voltarem à vida coloca a nossa própria espécie na condição de criadora, de “divindade”, algo que foi explorado magistralmente em obras literárias como “Frankenstein”, de Mary Sheeley, e “A Ilha do Dr. Moreau”, de H. G. Wells. Uma condição de enorme poder – e enorme responsabilidade também!

Cuidando do mundo que existe

Se, por um lado, o sucesso em processos de desextinção pode levar ao repovoamento de biomas onde as espécies foram extintas pela ação humana, mais recentemente – o que é positivo, inclusive pela recomposição das cadeias que formam a “teia da vida” nestes ambientes –, por outro ele pode levar, também, a um desleixo da nossa espécie em relação às espécies existentes. Se elas podem ser recriadas a qualquer momento, por que se preocupar em mantê-las?

O mundo possui milhões de espécies, muitas das quais em risco de extinção pela ação humana. Fonte: Getty Images.

É preciso considerar, também, os custos envolvidos nos processos de desextinção, que se mostram muito altos nos projetos em andamento atualmente. Não seria mais inteligente utilizar esses recursos para preservar e promover espécies em risco de extinção pela ação humana?

E as extinções naturais?

É preciso pensar, ainda, no fato de que a extinção de espécies também é um processo natural, estabelecido ao longo de milhões de anos sem a interferência humana. Em outras palavras: o ser humano é um agente importante de extinção, mas não é o único. Apenas para se ter uma ideia, os cientistas estimam que, das 4 bilhões de espécies que passaram pelo nosso planeta ao longo dos últimos 500 milhões de anos, 99% (3,96 bilhões) foram naturalmente extintas!

Fóssil de um arqueoptérix (Archaeopteryx lithographica), dinossauro voador que viveu há 150 milhões de anos. Fonte: Getty Images.

Na medida em que esse processo também implica modificações nos biomas e nas próprias relações entre espécies, pode ser muito arriscado reintroduzir espécies desaparecidas, em especial as que viviam em outras eras geológicas. O melhor aviso a esse respeito, vindo do campo da arte, é dado pelos dinossauros de “Jurassic Park”, que fogem ao controle de seus criadores e geram um caos total. Bem observado!

Responsabilidade pelas espécies

Por fim, mas não menos importante, é a percepção da nossa responsabilidade. Na medida em que a espécie humana consiga ressuscitar espécies, ela se tornará automaticamente responsável por elas, por sua presença no mundo e por seu bem-estar. Criar espécies por mero desejo de conhecimento, por exemplo, seria um erro extraordinário.

Conclusão: desextinção, sim ou não?

Ao olhar para as ideias e para os projetos que focam no “renascimento” de espécies, podemos pensar em um tema que é muito importante para a educação: o letramento, que é a capacidade de “ler o mundo”, criticamente, a partir de um conhecimento prévio – da alfabetização. O domínio das técnicas de modificação genética, como vimos, é cada vez maior e pode levar a grandes conquistas, das desextinção de espécies à cura de muitas doenças. Isso, aliás, já está acontecendo. Com um grande conhecimento, porém, nasce um grande poder – e uma responsabilidade equivalente! E é aí que entram em cena o letramento, a ética e uma percepção mais profunda da realidade e das consequências do que se está produzindo.

Na sua opinião, as pesquisas focadas na desextinção de espécies são mais benéficas ou mais prejudiciais ao mundo? Pense nisso!

Para ir mais longe – links e notícias interessantes

Programa de Educação Genômica, Departamento de Saúde do Reino Unido – “O que são edição genômica e terapia genética? (em inglês)

Portal G1, Ciência“Cientistas querem trazer espécies extintas de volta ainda nesta década; veja as promessas e entenda críticas”

Portal G1, Ciência – “‘Camundongo-lanoso’: empresa diz ter criado animal peludo com genes dos mamutes que quer ‘ressuscitar'”

CNN Brasil“‘Ciência da ressurreição’ ganha força: será que vamos reviver espécies?”

Veja“Mamute e Dodô: Empresa que pretende reviver animais extintos recebe aporte milionário”

Site oficial da Colossal Laboratories e Biosciences, empresa responsável pelo processo de desextinção do mamute-lanoso (em inglês)

Yale Environment 360, revista da Universidade de Yale (EUA) – “Apesar dos esforços para reviver espécies, a extinção ainda é para sempre” (em inglês)

Revista Nature “Desextinção: tecnologia de laboratório digital dá suporte a um ‘projeto mamute’” (em inglês)

525 anos depois: a presença indígena que molda o Brasil

Você fecha os olhos e, de repente, se imagina 525 anos no passado. Mais exatamente no território que futuramente seria o Brasil, a exatos três dias antes da chegada das naus de Pedro Álvares Cabral (22 de abril de 1500). Naquele vasto território viviam muitas pessoas – entre 2 e 10 milhões, segundo diferentes estimativas de pesquisadores. Na época, aliás, a população do reino de Portugal era de cerca de 1,5 milhão de pessoas. Ou seja: na terra “do lado de cá” do oceano, havia mais gente do que no país dos “conquistadores”!

Onde você estaria?

Agora, pense: você é um indígena brasileiro daquele momento. Em que lugar estaria? Na floresta amazônica, na caatinga, no cerrado, em nosso vasto litoral? Ou nos campos mais frios do Sul? E o que estaria fazendo? Uma coisa é certa: você pertenceria a uma das centenas de etnias originárias, herdeiras de grupos que chegaram ao nosso território há incríveis 12 mil anos ou mesmo antes! Com características próprias, hábitos, língua, crenças, pensamentos e conhecimentos sobre muitas coisas.

Chegamos a 22 de abril de 1500, no sul da Bahia: ao longe no mar, avista-se uma imensa e estranha embarcação. Dela parte um barco menor – uma canoa – com pessoas magras em vestimentas estranhas. Portugueses! A partir daquele momento, nada mais seria igual: as pessoas, relações, objetos, crenças e até mesmo o território, transformado em Colônia e, depois, em país. Nascia o Brasil.

Uma era de contato e trocas culturais entre europeus, indígenas e africanos escravizados. Mas também uma era de violência, resistência e luta por direitos e cidadania.

“Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500”. A tela pintada em 1900 por Oscar Pereira da Silva traz uma representação heróica da chegada dos portugueses ao Brasil. Fonte: Wikipedia.

Os indígenas no Brasil hoje

Agora, voltemos ao presente: em 2025, quem são os povos originários brasileiros? Como podemos honrar e preservar essa herança e essa presença tão ricas e essenciais para a nossa identidade? É isso que vamos explorar agora.

O primeiro passo é reconhecer a importância dessa contribuição.

Pense, por exemplo, na quantidade de lugares do Brasil com nomes indígenas. Só municípios, são 2.085 – 37,4% dos 5.570 existentes em todo o país –, sem contar Estados, rios, montanhas, lagos, baías, bairros e mais. Nomes de origem indígena também estão nas certidões de nascimento de muita gente: Iara, Jaci, Cauã, Cauê, Guaraci e Ubirajara…

E os povos originários ainda compartilharam conhecimentos preciosos sobre a natureza (começando pelas ervas medicinais), agricultura e alimentos (batata, milho, mandioca, tomate…), animais, objetos (como a rede de dormir), hábitos, técnicas, remédios e palavras do nosso vocabulário (como abacaxi, mandioca, pipoca, açaí, cumbuca, capivara e peteca).

Passado e presente

“Ah, mas tudo isso faz parte do passado…” – sim e não! São componentes históricos do nosso patrimônio cultural, mas seguem fortes conosco – e a melhor prova disto é sua presença na nossa linguagem de todos os dias.

Ailton Krenak, líder indígena e intelectual. Fonte: Wikipedia.

Em todos os ambientes onde vivem e atuam, os indígenas participam ativamente da vida brasileira. Eles cumprem um papel estratégico, por exemplo, na conservação e manejo sustentável das florestas, uma demanda cada vez mais importante em um mundo que vive uma emergência climática.

E também estão nos ajudando a pensar o mundo de uma forma diferente, nas universidades e em fóruns de reflexão. Um exemplo? Ailton Krenak, líder indígena, filósofo, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) e professor reconhecido internacionalmente. Em suas obras, ele propõe, por exemplo, a necessidade de se transformar nossa relação com a natureza, de modo a torná-la mais harmônica, mais respeitosa, e menos destrutiva.

Mas, quem são os povos originários do Brasil hoje?

Outra forma de valorizar os povos originários passa por percebê-los como são: uma população numericamente significativa, crescente e influente. E eles não estão “longe”; estão conosco e devem ser mais visibilizados!

De acordo com os dados mais recentes publicados pelo Censo(2022), o Brasil possui cerca de 1,7 milhão de indígenas autodeclarados (0,83% da população total do país), pertencentes a 305 etnias.

Uma população menor que a que existia quando da chegada dos portugueses há cinco séculos, é certo, mas que, nos últimos anos, vem registrando recuperação, motivada, inclusive, por um processo de autoafirmação (a título de comparação: no Censo de 2010, eram 897 mil os brasileiros autodeclarados indígenas).

Esse número não abrange os brasileiros que não se autodeclaram, mas têm ancestrais entre os povos originários – este grupo, para o qual não existe uma estimativa oficial, chegaria a muitos milhões de pessoas!

E onde eles vivem?

Os indígenas brasileiros vivem em todas as regiões do país, nas cidades, no campo e nos chamados “Territórios Indígenas”, que são terras ocupadas tradicionalmente e de modo permanente pelos grupos. Essas terras, pertencentes aos bens da União, são demarcadas legalmente pelo Estado (com base na Constituição Federal de 1988) para uso exclusivo por seus moradores.

Atualmente, segundo dados da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), o país possui 631 áreas que constituem terras indígenas, que equivalem a 13,8% do território nacional. Nelas, também segundo o Censo, cerca de 690 mil pessoas. Na medida em que a ocupação desses territórios segue um modo tradicional – ou seja, sem a exploração extensiva dos recursos naturais –, eles também funcionam como áreas importantes em relação à preservação ambiental.

Territórios Indígenas em mapa da Fundação Nacional dos Povos Indígenas.

Distribuição

Hoje, pouco mais da metade da população indígena brasileira (51,25%) se concentra na Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, norte do Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, norte de Tocantins e oeste do Maranhão).

O maior grupo – de 490,9 mil pessoas – reside no Estado do Amazonas. O segundo grupo, em termos numéricos, está na Bahia (229,1 mil pessoas), a mesma região onde, em 1500, o grupo de Pedro Álvares Cabral fez o primeiro contato, com os tupiniquins (povo pertencente ao subgrupo tupi). Em tempo: juntas, as regiões Norte e Nordeste concentram 75,70% de toda a população indígena do país.

Oca tradicional de etnias da região amazônica. Foto: Getty Images.

Os maiores grupos e as línguas

Quanto à expressão em termos numéricos (os dados são do Instituto Socioambiental), as maiores etnias indígenas brasileira são as dos Tikuna (Amazônia), Guarani Kaiowá (atualmente, concentrada no Mato Grosso do Sul), Kaingang (Região Sul e São Paulo), Makuxi (Roraima) e Terena (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e São Paulo).

E quais as línguas mais faladas?

Antes de chegar a essa informação, é importante destacar que o nosso país possui entre 170 e 274 línguas indígenas, que são faladas pelas 305 etnias.Essa contagem do número de idiomas, vale observar, varia de acordo com a metodologia adotada para classificação – algumas vezes, línguas mais próximas são interpretadas como uma só.

As duas principais famílias (ou troncos) linguísticas são o tupi e o macro-jê. Nelas se inscrevem muitas das línguas indígenas faladas no Brasil. Há, porém, outras famílias numericamente significativas, como pano, caribe e arauak. Há, ainda famílias menores e línguas isoladas ou de contato recente (que ainda estão sendo estudadas).

Mãe e filha da etnia Mebêngôkre (Kayapó). Fonte: Getty Images.

As mais faladas

Chegamos, então, às línguas mais faladas: são elas o guarani (kaiowá, ñandeva e mbya; 51 mil), o tikuna (cerca de 50 mil falantes), o macuxi (30 mil), o kaingang (22 mil), o terena (16 mil), o xavante (13 mil), o yanomami (12 mil), o munduruku (11 mil), o sateré-mawé (10 mil) e o nheengatu (língua geral amazônica – 8 mil).

E, ainda que o português seja a única língua oficial do Brasil, há vários casos de municípios que adotam línguas indígenas cooficiais. Alguns exemplos: São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas (nheengatu, tukano e baniwa), Tacuru, em Mato Grosso do Sul (guarani), e Japurá, também no Amazonas (tikuna).

Valorização das línguas indígenas

Nem todas as línguas indígenas faladas atualmente no Brasil possuem a mesma “saúde”. Há casos de estabilidade e até de crescimento do número de falantes, mas há muitos mais casos em que as gerações mais novas estão falando apenas o português. E existem situações em que as línguas estão desaparecendo. Isso, evidentemente, não ocorre porque os próprios indígenas estão “abandonando” seu idioma e cultura, mas porque, em muitos casos, eles são superexpostos à língua e cultura dominantes – na escola, no trabalho, nas relações sociais mais amplas, no contato permanente com as mídias.

Na medida em que cada língua é um repositório cultural e de transmissão de conhecimentos único, esse fenômeno marca um empobrecimento da cultura geral e deve ser combatido. Há várias iniciativas desse tipo, que vão de programas governamentais a fóruns universitários, passando por uma importante contribuição de comunicadores – influenciadores digitais indígenas ou pesquisadores apaixonados por sua cultura. A Educação Escolar Indígena também cumpre um papel fundamental no sentido de compartilhar, fortalecer e transmitir os conhecimentos linguísticos de uma geração a outra, em um contexto que contemple a interface com a sociedade vista em termos mais amplos.

Em todos esses canais, a luta é pela promoção e pela valorização das línguas, das contribuições culturais, do pensamento e da religiosidade.

Menino indígena amazônico. Foto: Getty Images.

Dia dos Povos Indígenas – conhecer, celebrar, valorizar

O 19 de abril foi oficialmente escolhido para celebrar o Dia dos Povos Indígenas em 1943, durante o governo de Getúlio Vargas. A data faz referência ao Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado em 19 de abril de 1940 na cidade de Pátzcuaro, México. Esse congresso foi considerado um marco porque, pela primeira vez, líderes indígenas e representantes de governos do continente se sentaram juntos para discutir políticas de proteção e respeito aos direitos dos povos originários. O objetivo era promover a integração e o bem-estar das comunidades indígenas, além de garantir o reconhecimento de suas culturas e tradições.

A data foi chamada oficialmente de “Dia do Índio” até 2022, quando uma lei federal modificou para “Dia dos Povos Indígenas”. Essa mudança atende a uma reivindicação dos próprios povos originários. O termo “índio” nasce de um equívoco de Cristóvão Colombo, que acreditava ter chegado às “Índias” (o Oriente) e encontrado seus habitantes – os “índios”; além disto, é uma palavra genérica, que não espelha a diversidade étnica e cultural dos habitantes originários das Américas.

Já “indígena” (ou “povo indígena”) passou a ser adotado justamente por sua precisão: em latim o termo significa, literalmente, “nascido (genus) dentro (indus), indicando as pessoas que estavam em um lugar antes da chegada de outros povos. Outro termo identificador dos povos indígenas é “povos originários”.

Para ir mais longe

Referências interessantes para você expandir seus conhecimentos e discutir com seus estudantes:

Museu Nacional dos Povos Indígenas, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas – Notícas, exposições, materiais educativos e informações.

Povos Indígenas do Brasil, do Instituto Socioambiental – Informações importantes sobre todos os povos indígenas do Brasil.

Biblioteca Digital Curt Nimuendaju – Repositório de recursos sobre línguas e culturas indígenas sul-americanas, incluindo livros raros, artigos, dissertações e teses.

Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP) – Organização que atua na defesa dos direitos indígenas e quilombolas, com foco no Estado de São Paulo.

Povos Indígenas do Brasil – Site da Survival International, uma das principais organizações globais dedicadas à defesa dos direitos dos povos indígenas e tribais ao redor do mundo (em inglês).

The International Work Group for Indigenous Affairs (IWGIA) – Organização global sem fins lucrativos que trabalha para promover, proteger e defender os direitos dos povos indígenas. Possui status consultivo no Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC). Em inglês.

Índios, Indígenas e Povos Originários – Conteúdo especial produzido pela Biblioteca Nacional do Brasil.

Educação Escolar Indígena, site do MEC com todas as informações sobre a Educação Escolar Indígena no Brasil. Fundamentos, metas, objetivos, organização, resultados etc.

“Viagem Fantástica”: a era dos nanorrobôs já começou!

Representação artística de um nanorrobô produzida por IA.

Não há quem não saiba o que são robôs, não é verdade? Robôs são máquinas programadas e que executam tarefas de forma automática. O termo, surgido há cerca de cem anos em uma obra de ficção científica do escritor checo Karel Čapek, também serve para identificar máquinas “com cara de gente”, como as que vemos nos filmes.

Karel Čapek. Fonte: Wikipedia.

Mas, você sabe o que são nanorrobôs? Devem ser robôs bem pequenininhos, certo? Certo! Nanorrobôs são máquinas espetaculares, que passaram a ser desenvolvidas e aprimoradas nos últimos anos para missões bem especiais. Vamos conhecê-las? Seja bem-vindo a mais uma edição de “Futuro Presente”!

Pequenininhos, mesmo!

Tudo o que começa com o prefixo “nano”, quando o assunto é ciência e tecnologia, é bem pequeno. E bota pequeno nisso! Para se ter uma ideia, um nanômetro equivale a um bilionésimo de metro (1 nm = 10⁻⁹ metros). Se esse número não diz muita coisa, basta imaginar a espessura de um fio de cabelo… e dividi-la por cem mil! É muito pequeno, atômico mesmo! Tanto, que só pode ser visto com microscópios eletrônicos, que são os mais potentes. Aliás, se usamos átomos como referência, 1 nm equivale a algo entre 3 a 5 átomos alinhados.

Com essa medida em mente, podemos pensar, de modo geral, em nanorrobôs: são máquinas construídas em escala nano, ou seja, com porções muito reduzidas, atômicas, de matéria. E, mesmo assim, são capazes de realizar tarefas complexas, como transportar medicamentos para dentro de células cancerosas, por exemplo. Elas são compostas por um motor, que possibilita seus movimentos, e por um sensor, que permite uma resposta diante de determinadas situações.

E, ao contrário do que manda a nossa imaginação (não há como não imaginá-los como aquelas máquinas humanoides dos filmes), eles, de modo geral, são mais parecidos com um pedaço de tecido com capacidade de reação: quando “percebem” um alvo (uma célula cancerosa, por exemplo), podem mudar de forma, catalisar (ou seja, acionar uma reação) e “disparar” uma substância.

Viagem Fantástica

Fonte: Wikipedia.

Em 1966, o filme “Viagem Fantástica” (“Fantastic Voyage” – cartaz do filme ao lado), um grande sucesso do cinema de ficção científica, trouxe uma ideia instigante: na história, cientistas conseguem miniaturizar objetos e seres vivos em uma escala muito reduzida. Então, eles miniaturizam uma “nave”, com tripulação e tudo, e a injetam na corrente sanguínea de uma pessoa com um coágulo no cérebro; a missão dos “organismautas” – se podemos batizá-los assim – seria drenar este coágulo e salvar a vida do paciente. Legal, né? Legal e engenhoso!

Ainda não conseguimos criar uma tecnologia que reduza o tamanho de um objeto; porém, já temos nas lâminas dos microscópios muitos nanorrobôs especialmente criados para missões semelhantes à do filme. Vamos descobrir quando tudo começou.

Entram em cena os “nanobots”

Richard Feynman. Fonte: Wikipedia.

O ano era 1959. Em uma conferência nos Estados Unidos, o físico Richard Feynman, vencedor do Prêmio Nobel em 1965, usou pela primeira vez a expressão “nanobots” (em português, “nanorrobôs”) para se referir a futuras máquinas, em escala nanométrica, capazes de curar doenças cardíacas com intervenções ao mesmo tempo muito reduzidas e precisas. Alguns anos depois, outro cientista, Eric Drexler, aproveitou a ideia para escrever um livro em que falava da possibilidade de construção de máquinas em escala molecular, para uso em aplicações no campo da biologia celular.

Em 1999, o físico Robert Freitas Jr. lançou o primeiro estudo com foco na viabilidade e no desenvolvimento desses aparelhos. Ele propôs a criação de nanorrobôs médicos, a que batizou “respirócitos” – sua função seria semelhante à dos glóbulos vermelhos. A partir de então, os estudos e as invenções não pararam mais!

Desafios

Tendo em mente o tamanho das máquinas, podemos concluir que sua produção implique porções minúsculas de materiais e ferramentas igualmente nanoscópicas – o que pede investimentos altos e muito conhecimento. E é isso mesmo! Em nosso tempo, os nanorrobôs são produzidos a partir de materiais orgânicos, como proteínas e polinucleotídeos (moléculas formadas por nucleotídeos, que são os blocos básicos do DNA e RNA), e também a partir de materiais inorgânicos como metais (como a prata e o ouro) ou diamante.

Nanomotor helicoidal coberto por um filme de ferro. Fonte: Wikipedia.

A coisa, porém, é bem complexa. Como observamos alguns parágrafos acima, essas máquinas possuem sensores e propulsores, e podem até contar com depósitos para o transporte de outros materiais em escala nano. Muitas vezes, inclusive, seu desenho foge à ideia que temos do que seria uma máquina – com engrenagens e braços, por exemplo, comuns aos equipamentos mecânicos que fazem parte do nosso dia a dia.

Essa complexidade torna o desenvolvimento dos nanorrobôs muito desafiador. Como construir componentes tão pequenos? Como energizá-los? Como, enfim, comunicar-se com eles? E é necessário pensar, também, em como o ambiente em que vão atuar reage à sua presença – poderá ocorrer, por exemplo, algum tipo de contaminação? E, depois que a tarefa for cumprida, o organismo ou ambiente hospedeiro precisará “expulsar” os nanorrobôs? Os cientistas estão buscando respostas a essas e outras perguntas. Eles buscam soluções em um maior conhecimento da própria natureza (do funcionamento dos tecidos humanos, por exemplo), em técnicas ainda mais refinadas para a construção das máquinas, para a comunicação com os “nanos” e para o controle das substâncias que podem ser transportadas por eles.

Mesmo com tantos desafios, o campo da nanorrobótica está crescendo. Um exemplo recente – do segundo semestre de 2024 – vem do Instituto Karolinska, da Suécia. Lá, pesquisadores criaram nanorrobôs que matam células cancerosas e reduzem o crescimento de tumores. Ao “ler” o tecido celular onde estão mergulhados – a partir do contato com substâncias químicas e até de respostas eletromagnéticas associadas ao metabolismo –, eles são capazes de identificar as células doentes, que, então, são atacadas e destruídas, sem prejuízo às células saudáveis.

Outras aplicações

Se os usos e o potencial da nanorrobótica na Medicina são apaixonantes, imagine que os “nanos” também podem ser usados em muitas outras áreas. Quer alguns exemplos?

  • Na restauração e limpeza de obras de arte e peças arqueológicas, que pedem, sempre, intervenções muito cuidadosas;
  • Na montagem e reparação de componentes eletrônicos em escala microscópica;
  • Na despoluição de rios e no tratamento da água;
  • No monitoramento e na nutrição de zonas de cultivo.

Para todos esses casos, vale observar, não estamos falando de nanorrobôs isolados, mas de verdadeiros “exércitos” de nanomáquinas.

Representação artística, gerada por IA, de um robô restaurando uma obra de arte. No caso dos “nanos”, a escala é infinitamente menor!

E o Brasil?

Em nosso país, há várias iniciativas no campo da nanotecnologia, inclusive algumas que trabalham com nanorrobôs. Na medida, porém, em que esse é um campo que exige grande investimento, muita especialização e interdisciplinaridade, o Brasil não está na vanguarda – caso de países como Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Coreia e Suíça. Esse “clube”, aliás, é bem restrito!

Mas, onde estão os nossos “nanoexperts”?

Entre os centros acadêmicos de pesquisa e formação na área de nanotecnologia – que abrange a nanorrobótica -, podemos citar as seguintes instituições: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); Universidade de São Paulo (USP); Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Universidade Federal do Paraná (UFPR); Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Da ficção… para a sua vida!

O caminho dos nanorrobôs é longo e está só começando (e olhe, que já são muitas as conquistas!). E, com o aporte de novas tecnologias às pesquisas – como as de novos materiais e, certamente, a da IA –, é de se esperar que, nos próximos anos, tenhamos muitas notícias sobre essas “maquininhas” tão instigantes. Um dos campos mais promissores, sem dúvida, é o da saúde, no tratamento de tumores, na reconstrução de tecidos, no ataque a vírus e no tratamento de aneurismas, por exemplo. Em síntese: é Futuro Presente!

#DESAFIO:

Agora, pare e pense: se você fosse um cientista, que tipo de solução você criaria usando nanorrobôs?

Para pensar a Água! Dados e reflexões sobre um bem essencial

Você já pensou na ideia de educar alguém para a água? A ideia pode soar até um pouco estranha – afinal, a água é a companheira de todas as formas de vida do nosso planeta desde sempre –, mas ela é cada vez mais necessária!

Com o aumento do consumo de água por setores como a indústria, a pecuária e a agricultura, a pressão sobre rios, lagos e reservatórios subterrâneos cresce significativamente.

Além disso, eventos extremos, como as recentes enchentes no Rio Grande do Sul, mostram que as mudanças climáticas já estão impactando diretamente o regime das águas. Períodos de chuva intensa e estiagens prolongadas têm se tornado cada vez mais comuns, em um fenômeno que pesquisadores chamam de “emergência climática”.

“Um copo d’água, Sr. Lavoisier”

Por volta de 1775, na França, o químico Antoine Lavoisier publicou uma frase que se tornaria célebre no campo da ciência. Essa observação, que ganhou o nome de “Lei da Conservação das Massas” (ou “Lei de Lavoisier”), afirmava que, “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Essa lei vale para os compostos químicos e para a água – porque, independentemente das transformações químicas ou físicas pelas quais ela passe, ao fim do processo sua massa total sempre será conservada.

O que significa dizer que, salvo pela chegada de “água do espaço sideral” em meteoros/meteoritos – algo que é muito raro e insignificante em termos de volume, ao menos na nossa época –, a quantidade da substância é a mesma há muitos milhões de anos. E ela apenas vai se transformando em um eterno ciclo de “sólido, líquido e gasoso”.

🌊 Transformações complicadas

Diante disso, não haveria por que se preocupar, certo? Errado! Porque, se nós não temos a capacidade de “fazer desaparecer” a massa total de água do planeta, reunimos todas as condições – e fazemos isso constantemente – de transformá-la. Não apenas dentro de seus estados físicos, mas também por meio da poluição e de alterações no relevo terrestre (com a construção de represas e o desmatamento, por exemplo).

Essas mudanças comprometem a qualidade da água para todas as formas de vida, e podem demandar esforços gigantescos – muitas vezes, inviáveis – de recuperação ou recomposição. Em síntese: dispomos de toda a água do mundo, mas não estamos sabendo como cuidar dela. E os resultados são preocupantes!

 

🌧️ Algumas informações interessantes

Você já ouviu falar em “superfície terrestre”, certo? Ela é aquela camada do nosso planeta, aquela “capa” – apesar de enorme, muito fina na comparação com o diâmetro do planeta – onde a vida acontece. Ela é formada pela litosfera (camada sólida), pela hidrosfera (oceanos, mares, lagos, rios e reservatórios subterrâneos) e pela atmosfera (a camada gasosa).

E é justamente nela que está toda a água; aliás, cerca de 71% da superfície terrestre é coberta por água. Nesse ambiente ela circula sem parar, seguindo o chamado “ciclo da água” – circulação em estado líquido, evaporação, congelamento, retorno em forma de chuva e assim por diante. E pode até acabar “estocada”, na forma líquida, em lençóis subterrâneos e reservatórios conhecidos como aquíferos, que são tremendamente importantes para a regulagem dos próprios rios; e em geleiras, situadas nas zonas mais altas do planeta e, também, próximo dos polos.

Detalhe crucial: como os seres vivos são formados e dependem totalmente da água, é possível afirmar, sem errar, que eles entram no mesmo ciclo: nós, por exemplo, bebemos água, consumimos alimentos, vamos ao banheiro, respiramos, transpiramos… ou seja, também estamos “trocando água” com o mundo o tempo todo!

A quantidade de água, como observamos, é grande – algo como 1,386 bilhão de quilômetros cúbicos (se colocássemos toda ela em uma esfera, esta teria um pouco menos da metade do tamanho da Lua!). O que não significa dizer que estamos com a “caixa cheia”! Isso porque 97,3% dela é salgada; 77,2% está congelada (doce ou salgada, em montanhas, icebergs e banquisas); 22,4% está guardada sob a terra, em lençóis e aquíferos; e apenas 2,7% é doce. Só que nem toda a água doce é potável – ou seja, própria para o consumo humano.

Quanto ao uso da água pelas sociedades, em uma média ele está dividido da seguinte maneira: 70% na agricultura e pecuária, 20% na indústria (em processos de fabricação, resfriamento, produção de energia e limpeza) e 10% no uso doméstico (alimentação, limpeza, sistemas de esgoto etc.). Vale observar que esses percentuais variam entre os países – o Brasil, por exemplo, utiliza mais água no setor agropecuário do que outros países.

Vale observar que todos esses usos são humanos e se situam dentro de um universo muito mais complexo, que compreende os demais componentes da biosfera. O que significa dizer que, além de “nos atender”, a água também deve nutrir todos os demais seres vivos dentro de um sistema repleto de variáveis (como, por exemplo, as estações do ano).

🚱 “Ah, mas se faltar a gente dá um jeito…”

Depende! Se, por um lado, em tese é possível recuperar e potabilizar águas contaminadas, salobras, salgadas ou “escondidas” – e há uma corrida tecnológica em busca de meios mais interessantes para isso –, por outro lado estes processos todos são, sempre, muito caros.

Para ter acesso a uma fonte de água subterrânea, por exemplo, é preciso cavar um poço, que pode ser muito profundo; muitas vezes, a água dos poços precisa ser tratada, resfriada e até desmineralizada para, então, estar disponível para o consumo.

E há um outro fator muito importante: o tempo. Há um antigo ditado chinês que afirma que “uma pessoa não deve começar a cavar um poço quando já está com sede”; esta regra parece funcionar perfeitamente para a questão de que estamos tratando. Visto em termos muito gerais, o mundo ainda não está “com sede” – ela, porém, já afeta muitas pessoas e causa muitas mortes.

Dados da ONU (2023) mostram que cerca de 2 bilhões de pessoas (26% da população global) não têm acesso a água potável segura; destas, cerca de 1,7 bilhão utiliza fontes contaminadas por fezes ou produtos químicos; e cerca de 4 bilhões de pessoas (quase metade da população mundial) enfrentam escassez severa de água por pelo menos um mês ao ano.

A maior parte das pessoas afetadas vive nos países mais pobres, que não possuem meios de solucionar a questão. À medida, porém, que a emergência climática se acelera, esse número vai crescer e chegar, também, aos países mais fortes economicamente. Há, inclusive, quem afirme que já estamos em uma etapa de “guerras da água”, quando países lutarão pelo controle e pelo uso deste recurso. Nesse sentido, o futuro não é nada promissor…

🛡️ Então, como fazer?

Promissor, mesmo, é investir em caminhos sustentáveis para o uso e a conservação das águas disponíveis. Ao invés de explorar aquíferos, proteger as nascentes e os rios; ao invés de dessalinizar a água do mar, proteger as florestas e recompor o meio ambiente em regiões degradadas para “plantar água” (regulando os lençóis e protegendo os rios do assoreamento). Ao invés de consumir alimentos e produtos cuja produção implica um gasto extremo de água, olhar com cuidado para os próprios hábitos em busca de equilíbrio.

Pausa para um exemplo: a produção de 1 kg de carne bovina envolve, em média, o consumo de 15 mil litros de água (os dados são do Water Footprint Network e do Instituto Akatu); tomando como referência o valor recomendado pela ONU de consumo de água por pessoa/dia, que é de 110 litros, chegamos à conclusão de que o volume de água investido na produção de 1 kg de carne poderia suprir as necessidades diárias de uma pessoa por mais de 4 meses!

Não estamos falando, evidentemente, em eliminar o consumo de carne bovina, que é um hábito nutricional, cultural e de saúde de bilhões de pessoas em todo o mundo; o importante, aqui, é refletir sobre os hábitos e a responsabilidade em relação aos impactos do consumo.

🚰 Dia Mundial da Água

Essa, aliás, é uma ideia central do Dia Internacional da Água, proposto pela Organização das Nações Unidas em 1992. A data, que é comemorada no dia 22 de março, funciona como um mobilizador de pessoas, empresas e sociedade para conhecer os problemas da água, conscientizar sobre o uso consciente de um recurso que é precioso e escasso.

Na medida em que esse é um processo civilizatório – ou seja, ele implica uma mudança de hábitos e de olhar de longa duração, que envolve toda uma comunidade –, ele deve, necessariamente, envolver a educação e a escola, já na Educação Básica. E é aí que entra em cena a Educação Ambiental, prevista, no caso brasileiro, de forma transversal (pela BNCC). E que, evidentemente, pode ser trabalhada de muitas maneiras, integrando colocações mais teóricas – como a que diz respeito, por exemplo, à compreensão esquemática do ciclo da água – e metodologias ativas que trabalhem com observação de campo, ação e protagonismo dos estudantes.

É possível, por exemplo, envolver os estudantes no conhecimento dos rios da cidade/bairro onde eles moram, do papel das águas para o desenvolvimento da civilização naquele local e a forma como estes cursos estão sendo tratados na atualidade. Perguntas como “Onde está o rio que passava ali?” ou “Quais são e onde ficam os rios do seu bairro?” podem dar início a belos projetos de pesquisa com impacto na comunidade.

É possível envolver os estudantes na compreensão dos custos de tratamento do esgoto em uma visita às estações e estruturas associadas. É possível, enfim, fazer com que eles percebam a relação entre água e os hábitos de consumo de diferentes maneiras. E levá-los a conhecer os caminhos para a conservação e o uso racional e sustentável.

Essa lista de possibilidades, evidentemente, é muito maior, e pode levar em conta os muitos cenários onde as escolas e as comunidades estão inseridas. O essencial, em todos os casos, é o letramento das novas gerações para uma questão fundamental.

💦 Quero encontrar mais fontes:

Legal! Vamos listar alguns links importantes para o trabalho sobre a temática da água na escola:

Organização das Nações Unidas (ONU) – Água (UN Water): Portal que mostra o trabalho da ONU em relação à água e ao saneamento. Traz notícias, relatórios e infográficos. Disponivel em português.

UNESCO – Programa Hidrológico Internacional (PHI): A UNESCO promove pesquisas e educação sobre gestão sustentável da água. O Programa Hidrológico Internacional (PHI) é uma referência global em estudos sobre recursos hídricos. Em inglês e espanhol.

Water Footprint Network (Rede de Pegada Hídrica): Esta organização internacional calcula a “pegada hídrica” de produtos, países e indivíduos, mostrando o consumo de água em diferentes atividades. Em inglês.

Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA): O portal da agência reguladora de recursos hídricos no Brasil traz notícias e materiais educacionais interessantes. Em português.

Portal Trata Brasil: O portal do Instituto Trata Brasil traz informações relevantes e materiais educativos sobre o saneamento básico no país. Em português.

Há, também, espaços físicos dedicados à educação para a água. Destacamos o Museu Planeta Água, mantido pela Companhia de Saneamento Básico do Paraná, a Sanepar, em Curitiba, e o Museu Água, mantido em São Paulo pela Associação dos Engenheiros da Sabesp (AESABESP).

“De outros carnavais”: a origem da maior festa brasileira!

O Carnaval é a grande festa brasileira. Ela, porém, é bem mais antiga que o próprio Brasil!

Todos os anos, para a alegria de muita gente (e até para o desgosto de quem não gosta da festa), tem Carnaval: é tempo de bloco na rua, fantasia, samba enredo, confete, escola de samba, pandeiro, cuíca, maracatu, brincadeira, marchinha, trio elétrico, ala das baianas, abadá e muita dança. No caso do Brasil, é tempo de colocar na rua toda a alegria e toda a criatividade que fazem nosso povo conhecido em todo o mundo.

E é interessante: há poucas festas no mundo que, apesar de repetir um padrão, se renovam tanto. Todo ano tem Carnaval e, mesmo assim, cada Carnaval é único. Uma festa extraordinária!

A “jovialidade” do Carnaval faz até com que a gente se esqueça que a festa é muito antiga. Mas, você sabe quando começou o Carnaval?

“A Luta entre o Carnaval e a Quaresma”, pintura de 1559 do artista neerlandês Pieter Bruegel.

Uma festa católica e romana

Antes de chegar à origem histórica do Carnaval, é interessante a gente saber o motivo da festa. Por que, afinal, isso de “carnaval”, uma festa que aposta na alegria, na desinibição e até na inversão dos elementos conhecidos? O que a “carne”, que aparentemente aparece no nome da festa, tem a ver com o reco-reco e o pandeiro? Vamos descobrir!

O Carnaval é uma celebração originalmente católica, diretamente relacionada à Quaresma, o intervalo de 40 dias que antecede a Páscoa estabelecido pela Igreja. Nesse período, em respeito ao suplício e à ressurreição de Jesus – o elemento mais importante do mistério cristão –, os fiéis se abstinham de consumir carne.

Aliás, o termo “carnaval” vem daí: da expressão latina “carnis levale” ou “carnem levare”, que significa, literalmente, “tirar a carne”. E também trocar outros hábitos “mundanos” por reflexões, orações e presença mais assídua à missa.

Então, antes que chegasse esse período de apaziguamento, as pessoas faziam uma despedida “em grande estilo” dos velhos hábitos. Com dança, comida, bebida e brincadeiras.

A civilização e os festivais romanos, como a Saturnália, são uma grande inspiração do Carnaval.

Mas, quando começou?

Localizado o contexto, podemos buscar o início da festa. Os primeiros movimentos no sentido de se guardar um período antes da Páscoa datam do século 2 d.C. e vêm de Roma. Ou seja: se a Quaresma nasceu nesse contexto, é bem possível que o Carnaval tenha surgido na mesma época. E a coisa foi se organizando – tanto para a Quaresma quanto para o Carnaval. Na Idade Média, ambos os momentos já estavam mais do que consolidados. E chegaram ao Brasil no século XVI com o catolicismo português.

Vale observar que, se o Carnaval como data associada à religião nasce nos primeiros séculos da Era Cristã, seus componentes – festa, dança, música, comilança e brincadeiras – são ainda mais antigos.

Os bonecos gigantes de Olinda são uma atração à parte no Carnaval do Nordeste!

Em Roma, como os romanos

Algumas linhas acima, localizamos a origem da festa entre os cristãos primitivos de Roma, capital de um Império muito poderoso cujo calendário religioso estava repleto de celebrações. Havia muitas religiões e divindades “disponíveis” – além de seus próprios deuses, os romanos podiam venerar livremente e participar de rituais e festas. E eles, por sua vez, podiam ser generosos em termos do que chamaríamos de “excessos”, em especial quando associadas a deuses como Baco (Dionísio, para os gregos), relacionado ao vinho, à festa, ao teatro e ao êxtase.

Ao chegar em Roma e fazer seguidores entre os moradores da cidade, o Cristianismo incorporou hábitos e condutas locais, que se somaram para formar a grande festa do início do ano.

Brasil: um Carnaval ainda mais rico

No Brasil, ao longo de mais de 500 anos, a festa ganhou uma quantidade enorme de elementos culturais, significados e formatos em diferentes regiões do país. Começando por um distanciamento em relação à religião. Hoje em dia, muita gente já não vê e nem sabe que existe uma ligação entre o Carnaval e a Quaresma. Tanto, que estamos falando a respeito neste artigo!

O contato dos portugueses com os povos originários indígenas e com os povos oriundos de diferentes partes da África no período da escravidão somou ao Carnaval brasileiro características únicas. Se a celebração cristã europeia incorporava elementos pré-cristãos, a celebração brasileira somou os elementos europeus aos de outras culturas antigas e ricas – e isto aparece nos temas, roupas, instrumentos e estilos musicais. O Carnaval brasileiro tem muitas referências, do Amazonas a Veneza, do Egito ao Japão!

“Marimba. Passeio de domingo à tarde”. Aquarela de Jean-Baptiste Debret, de 1826. Observe os instrumentos musicais e as roupas dos participantes, que são negros brasileiros.

Um mundo de instrumentos

Pense apenas, por exemplo, nos instrumentos de percussão que constroem a sonoridade carnavalesca das nossas avenidas e ladeiras. Lá estão, entre outros instrumentos, o surdo (um grande bumbo de marcação, universal), o pandeiro (português), a cuíca (bantu/africano), a caixa (europeia), o agogô (iorubá/africano) e daí por diante. Aliás, convidamos você a descobrir a origem de outros instrumentos – segue a lista: tamborim, repinique, agogô, reco-reco, chocalho, ganzá, repique de mão, alfaia, timbal, xequerê e triângulo. Você vai se surpreender!

Você conhece o agogô? É um instrumento de Carnaval que nasceu com o povo Yourubá, na Nigéria, e veio ao Brasil com os povos escravizados.

O Carnaval no Brasil moderno

Seguindo daqui: a festa foi se organizando, se conformando, até chegar aos séculos 19 e 20. Em um Brasil independente e cada vez mais urbano, com acesso a novas tecnologias comunicacionais – o rádio, o disco, a tevê –, o carnaval cresceu e os sambistas começaram a ter mais reconhecimento.

Muitos deles, mulheres e homens negros oriundos de comunidades carentes economicamente. Outros, vindos de uma classe média urbana. Uma lista que inclui nomes como Cartola, Noel Rosa, Nelson Cavaquinho, Clara Nunes, Alcione, Paulinho da Viola, Candeia, Batatinha, Beth Carvalho, Adoniram Barbosa, Martinho da Vila, Nelson Sargento, Clementina de Jesus, Jamelão, Elza Soares, Zeca Pagodinho, Dona Ivone Lara e muitos outros!

A valorização do samba e dos demais ritmos carnavalescos (como o coco, o frevo, o maracatu e o carimbó) não foi, evidentemente, um processo simples ou pacífico – ela foi possível, na verdade, graças ao enorme valor cultural envolvido. Por muito tempo, especialmente as manifestações associadas às raízes não europeias foram vistas com suspeição e preconceito. Aos poucos, porém, esse preconceito vem sendo superado.

O artista francês Jean Baptiste Debret registrou muitas festas e folguedos no Brasil. Como esses “Meninos brincando de Soldados”, de 1827.

Um Brasil de muitos carnavais

Se você fechasse os olhos e pensasse no Carnaval brasileiro, que imagem viria à sua cabeça? A das escolas de samba do Rio e de São Paulo? Das ruas de Salvador? Do frevo das ladeiras de Olinda e Recife? Dos maracatus de Pernambuco? Dos blocos do Rio e de muitas capitais brasileiras? Do boi-bumbá do Norte e Nordeste? Dos desfiles de fantasia? Qualquer uma delas é perfeita! Isso porque o Carnaval brasileiro é multifacetado – são muitos carnavais, com atrações para todos os gostos, até mesmo para pessoas de outros países!

No século 21, em nosso tempo, o Carnaval brasileiro é uma festa de alcance internacional. Com a chegada de tecnologias digitais ainda mais poderosas – e um investimento pesado de empresas e do poder público –, propaga suas músicas, artistas e modas com uma velocidade impressionante.

Ao mesmo tempo, porém, em especial na área rural e em comunidades mais afastadas e/ou mais tradicionais, cultiva antigas danças, ritmos e fantasias. Em síntese: é um Carnaval poderoso, que pode ser visto, lido e curtido em diferentes formatos.

Assim, esquente o seu pandeiro (ou não!) e bom Carnaval!

O bloco e o trio elétrico – criações do Carnaval brasileiro!

Para ir mais longe – sites que trazem conteúdos históricos e educativos sobre o Carnaval

Enciclopédia Itaú Cultural

Museu Afro Brasil

O Frevo e sua História – Google Arts & Culture

Museu do Samba (RJ)

Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira

Para redescobrir a Matemática na Educação: desafios e caminhos

Inteligência artificial, viagens espaciais, Física, Química, Engenharias, Biotecnologia… todas estas áreas estão “bombando” em 2025 e seguirão assim. E todas elas compartilham um elemento: o uso extensivo da Matemática, em cálculos, algoritmos, medidas, projeções e mais. O que significa que o domínio desse componente curricular é, mais do que nunca, estratégico. Para os países, ele representa desenvolvimento e poder; para as pessoas, possibilidades de crescimento profissional e pessoal.

✔️ DESAFIO EM TEMPO DE DECLÍNIO DA APRENDIZAGEM

E aqui está o paradoxo: embora a Matemática tenha sido essencial ao longo de toda a História, seu domínio se torna cada vez mais crucial no mundo moderno. No entanto, observa-se um declínio global na aprendizagem do conteúdo curricular, inclusive em países que por muito tempo se destacaram como líderes globais em educação, como a Finlândia. Isso indica que os estudantes de hoje dominam menos conceitos matemáticos do que as gerações anteriores.

Avaliações internacionais como o PISA (Programme for International Student Assessment), promovido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), e o TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study), da IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement), mostraram que, salvo no caso de alguns países da Ásia, houve uma queda significativa no nível de acerto dos estudantes, o que indica uma aprendizagem deficiente.

✔️ E O BRASIL NESSA HISTÓRIA?

No caso específico dos estudantes brasileiros que participaram da última edição do PISA, em 2022 (a próxima edição acontece neste ano), apenas 27% (pouco mais de um a cada quatro) alcançaram o nível 2 de proficiência, considerado adequado – nele, a pessoa tem capacidade de usar conceitos de Matemática no dia a dia. A média dos países da OCDE, nesse nível, chegou a 69%.

No caso dos níveis 5 e 6 de proficiência – considerados os mais altos de domínio do conhecimento –, apenas 1% dos estudantes brasileiros chegou lá; a média dos países da OCDE foi de 9%.

✔️O QUE ESTARIA PROVOCANDO ESSA RETRAÇÃO NA APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA?

Não há uma resposta fechada. Há, sim, a percepção de elementos que podem ajudar professores e gestores em relação aos objetivos que pretendem alcançar e, também, às habilidades e competências que devem ser desenvolvidas, nos estudantes e nos docentes, para a melhoria da aprendizagem da Matemática na prática.

✔️ VAMOS DESTACAR ALGUNS DELES

📌 A pandemia da Covid-19 provocou um impacto duradouro na Educação Básica, enfraquecendo a aprendizagem de muitos estudantes, prejudicando o ensino presencial e reforçando as desigualdades educacionais em todos os países. Esse impacto pode e deve ser percebido por meio de avaliações diagnósticas da aprendizagem e revertido a partir da aplicação de planos de intervenção que foquem as lacunas de aprendizagem e atuem individualmente, estudante a estudante.

📌 Em muitos países – entre eles, o Brasil – há falhas na formação dos docentes de Matemática. O “remédio” essencial para essa situação é investir de forma permanente em formação continuada, com recursos que valorizem o entendimento do componente curricular dentro da realidade vivida, invistam no interesse e na criatividade dos professores e lhes forneçam meios para planejar e desenvolver aulas que animem, aproximem, engajem e atraiam os estudantes – e que tenham como resultado a aprendizagem verdadeira.

📌 No caso brasileiro, o fortalecimento da formação docente passa, também, por buscar caminhos para estimular os estudantes das licenciaturas em Matemática. Apenas para se ter uma ideia, a licenciatura em Matemática é a segunda com maior percentual de desistências no país – 68% dos estudantes abandonam a graduação –, ficando atrás, apenas, da graduação/licenciatura em Física (72%). Isso implica uma carência crítica de professores graduados em Matemática nas redes de ensino. Ainda que esses docentes não sejam os únicos autorizados a dar aulas de Matemática na Educação Básica, eles podem colaborar muito, também em relação ao aporte de recursos de ensino nos próprios contextos formativos.

📌 O ensino da Matemática deve ser modernizado, com metodologias e recursos que caminhem no sentido do protagonismo do estudante e da aplicabilidade. Alguns exemplos interessantes: metodologias ativas, aprendizagem baseada em problemas, aprendizagem por projetos e gamificação. Isso não significa enfraquecer os currículos (muito pelo contrário!), mas fortalecer o ensino – começando pela Matemática básica, que é essencial – a partir de exemplos práticos e aplicações.

📌 As recentes limitações ao uso de tecnologias digitais em sala de aula no Brasil, estabelecidas pela Lei 15.100/2025, trouxeram desafios aos professores e aos gestores; desafios que também se relacionam ao ensino e aprendizagem da Matemática. Afinal, elas gerariam uma oportunidade para a promoção de outros recursos que estimulem o raciocínio matemático básico?

Aqui, é interessante fazer uma análise mais crítica do momento e da lei. Ela não veio para “banir” a tecnologia – algo que seria improdutivo e impossível –, mas para regular seu uso a partir de critérios de intencionalidade pedagógica e papel na aprendizagem. Isso, aliás, está na letra da lei:

“Art. 2º – Fica proibido o uso, por estudantes, de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais durante a aula, o recreio ou intervalos entre as aulas, para todas as etapas da educação básica.

§ 1º – Em sala de aula, o uso de aparelhos eletrônicos é permitido para fins estritamente pedagógicos ou didáticos, conforme orientação dos profissionais de educação”.

Ou seja: o poder pedagógico das tecnologias digitais está mantido e é até realçado, inclusive em relação à Matemática. Falando sobre esse componente curricular, autores como Ferreira, Campos e Wodewotzki (2013, p. 162) observam que a tecnologia deve ser vista “como parte de uma estratégia colaboradora na medida em que, graças à implementação de algoritmos, viabiliza o trabalho com problemas diversos que envolvem diferentes níveis de complexidade algébrica e grande quantidade de dados”.

Eles também destacam o papel da tecnologia na facilitação do contato com os elementos que compõem a Matemática, uma vez que ela permite a visualização de imagens e pode converter conceitos e ideias abstratas em tarefas, desafios e jogos que engajam e geram sentido. O lúdico, aqui, cumpre um papel muito importante. Além de ser um objeto sociocultural em que a Matemática está presente, o jogo é uma atividade natural no desenvolvimento dos processos psicológicos básicos; supõe um “fazer sem obrigação externa e imposta”, embora demande exigências, normas e controle (Brasil, 1998, p. 47).

O que significa que propostas tecnológicas – e também analógicas, com o resgate de formas tradicionais (desde que não “engessadas” ou desprovidas de sentido para quem aprende) – são primordiais para o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático.

Portanto, não é o “limitar” do uso da tecnologia que contribui para esse desenvolvimento, mas a intencionalidade em cada proposta diversificada, que é desenhada a partir de uma avaliação diagnóstica clara e precisa e de um planejamento que (re)dimensione as práticas pedagógicas.

📌 O olhar dos professores e dos gestores para eventos que promovem o interesse e o engajamento em relação à Matemática – como a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) e a Olímpiada Brasileira de Matemática (OBM) – também é algo muito interessante. Eventos como esses possuem a capacidade de, ao mesmo tempo, valorizar a área do conhecimento, promover os estudantes individualmente, fortalecer os laços do grupo e elevar o nome da instituição ou rede de ensino.

📌 E os sistemas de ensino? O papel dos sistemas de ensino – como o da Editora Opet – é fundamental para fortalecer o aprendizado da Matemática. Começando pela oferta de materiais didáticos – as coleções e suas expansões em objetos digitais educacionais (ODEs) –, passando pela metodologia de ensino moderna, pelo apoio à formação continuada dos professores (com recursos que os estimulam e inspiram) e pela avaliação diagnóstica precisa e de alta qualidade na Educação Básica.

No caso das coleções da Editora Opet, elas oferecem – por exemplo – jogos matemáticos que trazem o lúdico à aprendizagem, situando os estudantes no centro deste processo, como protagonistas.

✔️ PARA IR MAIS LONGE

Conheça as coleções da Editora Opet para a Educação Básica

Conheça o Programa inDICA de Gestão da Educação

REFERÊNCIAS:

BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares NacionaisMatemática. Brasília: MEC/SEF, 1998.

CAMPOS, C. R.; JACOBINI, O. R.; WODEWOTZKI, M. L. L.; FERREIRA, D. H. L. Educação estatística no contexto da Educação crítica. Revista Bolema, v. 24, nº 39, p. 473- 494, ago. 2011.

A “bússola” de 1891: o Brasil e sua primeira Constituição republicana

Assinatura da Constituição de 1891″, pintura de Eliseu Visconti.
Fonte: Wikipedia

Palácio do Conde dos Arcos, cidade do Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 1891. Naquele dia úmido e abafado, típico de verão na antiga capital da jovem República, um grupo de cerca de 225 parlamentares e autoridades convidadas promulgava a primeira Constituição republicana brasileira. Esse documento, elaborado pelo Congresso Constituinte, havia sido previsto no decreto que instituiu o Governo Provisório da República, logo após a deposição da monarquia em 15 de novembro de 1889.

O novo Brasil passava a contar, enfim, com uma nova “bússola” legal, cujas consequências seriam percebidas até hoje.

Constituição, uma superlei

Antes de seguir em frente, é interessante observar a importância da Constituição. Também chamada de Carta Magna, ela é a lei máxima de um país, da qual partem todas as demais leis e documentos legais, que são infraconstitucionais (ou seja, eles se situam em uma posição inferior em termos de poder legal). As leis devem seguir exatamente os preceitos constitucionais, sob pena de nulidade. A abrangência do poder constitucional explica plenamente a importância dos princípios e fundamentos da Constituição. E a importância de que eles sejam estudados e discutidos de forma democrática.

Quando tudo começou: um Raio-X da Constituição de 1891

A primeira Constituição republicana foi a segunda da história brasileira (a primeira, sob Dom Pedro I, havia sido outorgada em 1824). Ao todo, o país teve sete Constituições – entre democráticas e ditatoriais –, sendo a mais recente a de 1988, que atualmente rege o nosso país.

Mas, por que a Constituição Federal de 1891 – com seus 91 artigos, acrescidos de outros 8 nas Disposições Transitórias – é tão importante, a despeito de ter tido uma existência relativamente breve, de apenas 43 anos?

O documento delineou vários dos princípios que, desde o início da República, norteiam o Estado e a sociedade brasileiros. Vamos conhecê-los:

. A instituição do federalismo, pela “por união perpétua e indissolúvel das suas antigas províncias, em Estados Unidos do Brasil”.

. A forma de governo, republicana e presidencialista.

. A divisão do Poder Legislativo em duas casas, a Câmara dos Deputados e o Senado.

. O estabelecimento do voto direto para a eleição dos deputados federais e dos senadores.

. As incumbências de ambas as casas no desenvolvimento e votação de projetos de lei, incluído o do orçamento da república.

. As figuras do presidente e do vice-presidente da república, suas atribuições, mandato e forma de eleição pelo voto direto e majoritário.

. As atribuições do Poder Executivo.

. A estrutura do Poder Judiciário, inclusive com a instituição e atribuições do Supremo Tribunal Federal (STF).

. A organização e constituição das Forças Armadas.

. O status de cidadão brasileiro a todos os nascidos em território nacional (jus solium).

. A igualdade entre todos os cidadãos brasileiros, a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, segurança individual e propriedade.

. A laicidade do Estado e a liberdade religiosa dos cidadãos – aqui, temos um contraste com a situação do período imperial, em que o catolicismo era a religião oficial do Estado (em seu Art. 5º, a Constituição de 1824 determinava que “a Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior do Templo”).

. A abolição da pena de morte.

Igreja Evangélica Luterana de Domingos Martins, ES. Construída em 1887, é é o mais antigo templo protestante ornado com torre no Brasil.

Brasília à vista!

Uma curiosidade que demonstra o olhar estratégico dos legisladores da Constituição de 1891: a Carta destinava uma área de 14.400 km², a ser demarcada no chamado “Planalto Central”, para o estabelecimento da futura capital federal. O que, de fato, viria a acontecer 69 anos depois, com a inauguração de Brasília em 21 de abril de 1960.

Projeto do plano piloto de Brasília. (Imagem: Arquivo Público do DF)

Uma herança essencial

As Constituições brasileiras que se seguiram (1934, 1937, 1946, 1964 e 1988) herdaram vários desses princípios. A Carta Magna de 1988, construída e promulgada no contexto de retorno da democracia ao país (em 1985, com a instalação da “Nova República” tendo José Sarney como presidente), especialmente, consagrou e ampliou os princípios, direitos e garantias ligados à cidadania. Dentre eles estão, por exemplo, o direito à saúde e à educação públicas gratuitas, universais e de qualidade – uma obrigação do Estado.

Para ir mais longe

Confira, nos links abaixo, artigos que ampliam o seu conhecimento sobre a Constituição Brasileira de 1891 e além:

Portal da Câmara dos Deputados, Constituição de 1891 (texto original)

Senado Federal – Constituição 30 anos: As Constituições Brasileiras de 1824 a 1988

Fundação Getúlio Vargas (FGV) – Atlas Histórico do Brasil – “Constituição de 1891”

Arquivo Nacional (NA) – Constituição de 1891

Agência Brasil – Confira dez curiosidades sobre a Constituição Republicana de 1891

FuturoPresente #03: nosso próximo passo… no espaço sideral!

Terra e Lua vistas da órbita lunar, em imagem tomada do módulo da Missão Artemis I, da NASA. Foto: NASA.

A relação entre a humanidade e o céu é muito antiga. Desde o início da civilização, olhamos para o alto e ficamos encantados! Essa relação com o céu gerou mitos, poesias e divindades! A uma certa altura, criamos obras literárias que nos levavam até lá! Se você pensou em Júlio Verne (foto) e em “Viagem à Lua”, é isso mesmo! E o autor francês é apenas um entre milhares de escritores da ficção científica “espacial”, de Isaac Asimov a Ray Bradbury.

Julio Verne (1828-1905)

Daí, no século XX, veio a ciência e, com base em tecnologias desenvolvidas durante a Segunda Guerra Mundial (foguetes, materiais, combustíveis, radar, técnicas de gestão de projetos), levou mesmo pessoas ao espaço. Primeiro, chegamos à nossa própria órbita, com o cosmonauta russo/soviético Iuri Gagarin, em 1961, a bordo da espaçonave Vostok (ele subiu a uma altura de cerca de 300 km); depois, em 1968, à Lua, com Buzz Aldrin e Neil Armstrong, tendo como piloto do módulo orbital Michael Collins, na Missão Apollo 11 (distância total percorrida: aproximadamente 800 mil km!).

A última “pisada fora da Terra” aconteceu em 1972, na Missão Apollo 17, com os astronautas Eugene Cernan, Ronald Evans (piloto do módulo orbital) e Harrison Schmitt. Depois disso, muitas missões foram enviadas ao espaço e muita coisa aconteceu (dos ônibus espaciais à estação espacial internacional, para ficar em dois exemplos), mas nunca mais “saímos em pessoa” dos limites da órbita terrestre. Nesse período, as tecnologias avançaram enormemente, o que aumenta as possibilidades de “colocar o pé no universo” com sucesso. Dito isso, a expectativa é gigantesca!

🚀🌝 Mas, qual será o próximo corpo celeste a ser alcançado por pés humanos?

Será a Lua, para onde, em princípio, devemos retornar com a Missão Artemis, da NASA. Em 2025, ela deve enviar astronautas para um voo tripulado ao redor da Lua; e, em 2026, eles devem pisar no Polo Sul do satélite.

A volta à Lua faz parte de um plano ainda mais ambicioso: levar astronautas até Marte, o que pode acontecer em 2040 – este ano é uma estimativa, mas é bem possível que o voo aconteça, mesmo por esta época. Já pensou? Com todos os recursos comunicacionais que então teremos, será sensacional!

A tripulação da Missão Artemis 2, que deve marcar a volta dos astronautas à Lua. Da esquerda para a direita, os astronautas Christina Koch, Victor Glover e Reid Wiseman (NASA), e Jeremy Hansen (da Agência Espacial Canadense). Foto: Josh Valcarcel/NASA.

#ESPECIAL: Do espaço sideral ao quarto de dormir: como a Corrida Espacial transformou nossas vidas!”

🌌Uma nova Corrida Espacial

A agência espacial dos Estados Unidos não é a única a sonhar com essas missões. Elas estão nos radares de outras agências espaciais nacionais, da China, Rússia, Japão, Índia e da Comunidade Europeia. Sem contar os planos de empresas privadas, como a SpaceX e a Blue Origin, que já estão realizando façanhas incríveis no espaço, com voos que envolvem, por exemplo, naves que podem voar várias missões e até “pousar de ré” – fantástico!

E há, também, projetos desenvolvidos de forma colaborativa entre países, entre os quais o Brasil, que também possui um programa espacial bastante avançado.

Centro Espacial Satish Dhawan, em Andra Pradesh, Índia. No destaque, o lançador de satélites geossíncronos. Foto: Agência Espacial Indiana.

📡👩🏿‍🚀Mas, por que explorar o espaço?

Starship, nave espacial “retornável” desenvolvida pela empresa Space-X.

Como observamos no início deste artigo, explorar o espaço faz parte de um sonho muito antigo da humanidade. Faz parte da eterna curiosidade humana! Mas, também envolve fatores políticos (a “Corrida Espacial” travada por Estados Unidos e URSS é um bom exemplo destes fatores), interesses econômicos (como o de explorar matérias-primas e processos industriais no espaço) e científicos (a busca pelo conhecimento puro, pela origem do universo, por formas de vida, por novos materiais e medicamentos, entre outros). E, sem dúvida, a possibilidade de colonização de outros corpos celestes, como planetas e satélites.

Há, evidentemente, enormes desafios, começando pela obtenção de recursos financeiros para bancar as missões. E também os de produzir tecnologias que permitam a saída das naves da Terra com maior eficiência e menor custo, o desenvolvimento de formas mais avançadas de sustentação da vida humana em outros ambientes, a criação de materiais mais resistentes às longas jornadas etc.

Em uma outra vertente, a da Física, busca-se formas de superar as brutais distâncias espaciais, que, hoje, tornam viagens mais longas simplesmente impossíveis (um exemplo: viajando à velocidade da luz, que é de 300 mil km/s, levaríamos 105,7 mil anos para cruzar apenas a extensão da nossa galáxia, a Via Láctea). As tecnologias de propulsão baseadas na física newtoniana (como foguetes químicos), atualmente disponíveis, são muito lentas para alcançar planetas distantes em prazos razoáveis. Viagens para além de Marte já enfrentam desafios de tempo considerável, e alcançar sistemas estelares próximos levaria milhares de anos com os meios atuais.

E há que considerar, também, as muitas questões legais e éticas associadas à exploração de outros mundos: novos mundos pertenceriam a quem? E se encontramos formas de vida extraterrestre, como proceder? 👾

Sonhos e realizações que só são possíveis graças à ciência, que nasce na educação! E essa é a “vibe” da série #FuturoPresente, da Editora Opet!

Referências para você ir mais longe:

1. Projeto Artemis (NASA)

2. Agência Espacial Europeia (ESA)

3. Agência Espacial Brasileira (AEB)

4. Agência Espacial Indiana (ISRO)

5. Agência Espacial Chinesa (CNSA)

6. Agência Espacial Japonesa (JAXA)

7. SpaceX

8. Blue Origin

9. Missão Apollo (NASA)

Educação Pública: desafios e estratégias no novo ciclo de gestão

Para todos os 5.570 municípios brasileiros, 2025 marca o início de um novo ciclo de governança. Um tempo marcado pela renovação ou, então, pela continuidade administrativa, com reflexos sobre todas as áreas, especialmente a da Educação. Neste momento de arrancada, porém, o caso das escolas é especial: como o calendário letivo começa em menos de um mês – de modo geral, nas primeiras semanas de fevereiro – prefeitos, secretários e equipes de gestão devem estar prontos para garantir uma transição segura, de olho na evolução dos estudantes pelos próximos quatro anos e além.

Planejamento, formações pedagógicas, recursos didático-pedagógicos, mobilização da comunidade escolar e conexão com os grandes temas da atualidade são alguns dos componentes dessa missão.

Os sistemas de ensino são grandes aliados das escolas públicas

Neste momento, aliás, ter um sistema de ensino como apoiador do trabalho pode representar um diferencial estratégico. Saiba por quê!

Quem responde é a gerente pedagógica da Editora Opet, Cliciane Augusto, que acompanha o trabalho pedagógico desenvolvido pelo selo educacional Sefe em parcerias com redes municipais de todas as regiões país.

“Neste momento, os gestores municipais – prefeitos e seus secretários de Educação – têm um enorme desafio, de transformar a educação em prioridade real. E isso é algo que concretiza e vai além das propostas apresentadas em campanha. É ação prática, que precisa de organização, apoio e parcerias”, observa.

A principal preocupação dos gestores deve ser a garantia de uma transição segura, acompanhada de uma série de ações: o planejamento do ano letivo, a organização de metas e o domínio das estratégias para garantir educação de fato, que garanta o acesso e a aprendizagem dos estudantes.

“Isso tudo começa com um diagnóstico inicial da rede, que permite aos prefeitos – em especial, aos que assumiram agora – entender a infraestrutura, identificar os resultados da aprendizagem e os desafios mais críticos”, avalia Cliciane. Um conjunto de ações que está diretamente conectado à formação continuada dos professores – “lembrando que são eles que fazem com que as propostas e os projetos pedagógicos aconteçam, na formação dos estudantes”.

O apoio dos sistemas de ensino

Diante dessa soma entre demandas fundamentais e urgência para atendê-las, os sistemas de ensino cumprem um papel estratégico. “Sistemas de ensino bem estruturados, como é o caso do oferecido pela Editora Opet, representam um diferencial prático e podem ser colocados em prática imediatamente.” Mas, com quê?

  • Com um planejamento pedagógico estruturado padrão, alinhado à Base Nacional Comum Curricular, a BNCC, e à legislação educacional para organizar o ano letivo dos municípios.
  • Com materiais didáticos – coleções estruturadas para todas as etapas da Educação Básica – e recursos educacionais digitais (REDs) associados.
  • Com formações pedagógicas continuadas que oferecem soluções práticas aos professores: contato, conhecimento e ampliação do uso dos recursos didático-pedagógicos, orientações, discussões sobre os grandes temas da atualidade, práticas efetivas de alfabetização, letramento e avaliação formativa.
  • Com avaliações diagnósticas da aprendizagem, que permitem o desenvolvimento de planos de intervenção e a recomposição da aprendizagem. No caso da Editora Opet, elas são oferecidas por meio do Programa inDICA de Gestão da Educação.

A grande missão dos gestores

Para Cliciane, neste início de mandato, os gestores municipais que assumem a sua carga em 2025 enfrentam desafios estratégicos e inadiáveis ​​para garantir uma educação pública de qualidade e equitativa. Entre as prioridades, é preciso garantir o acesso e a permanência de todas as crianças e jovens na escola, especialmente na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, etapas cruciais para o desenvolvimento das futuras gerações.

Também é essencial promover a alfabetização na idade certa e desenvolver as competências da BNCC, reforçando o aprendizado como foco central das políticas educacionais. Trata-se de uma alfabetização que potencializa o verdadeiro letramento para a vida, possibilitando o desenvolvimento de cidadãos críticos, participativos e capazes de tomar decisões conscientes.

Nós, da Editora Opet, estamos prontos para participar dessa grande missão! Conheça nosso trabalho e conte conosco!

23°26′: a inclinação que transformou o mundo – verão, solstício e festas de fim de ano

“Eu sou o sol, sou eu que brilho, pra você, meu amor”… quando pensamos em verão, é difícil não lembrar do refrão do clássico “O Dia Que o Sol Declarou o Seu Amor Pela Terra”, de Jorge Benjor. Muito mais hoje, no primeiro dia do verão de 2024-2025 no Hemisfério Sul! A nova estação chegou às 06h20 (no horário de Brasília), e vai até 20 de março do ano que vem.

Estação de calor, praia, campo… estação de curtir!

Mas, você sabe por que o verão é o verão? E por que esta época do ano – Verão, Natal, Ano Novo – tem tanta importância para o imaginário ocidental? Vamos descobrir!

Um fenômeno astronômico

O ano terrestre, como você sabe, é dividido em quatro estações – Primavera, Verão, Outono e Inverno. São duas estações de maior calor e maior frio ou, então, mais secas ou úmidas, e duas estações em que a temperatura normalmente é mais suave ou mista, alternando calor e frio. Dependendo da região do planeta – especialmente, por conta da latitude, e, também, por efeitos de altitude ou até influência de correntes marítimas – essas quatro estações são mais ou menos marcadas.

Há milhares de anos, as pessoas, com base na observação e na necessidade de sobreviver, perceberam um padrão cíclico na relação entre o movimento dos astros e o andamento do clima. Começava, então, o registro das quatro estações, inicialmente feito de forma empírica – isto é, baseado na experiência vivida. Mais tarde, a partir desses dados, filósofos e cientistas buscaram explicar o porquê de tudo isso.

Zigurate – templo utilizado para observação astronômica – na antiga cidade de Ur, no atual Iraque. A estrutura, restaurada em tempos recentes, foi construída no século 21 a.C.

O “porquê” de tudo isso

As estações acontecem graças a um fenômeno astronômico ligado à Terra e ao Sistema Solar: a translação, que é o movimento do nosso planeta ao redor do Sol (que dura, aproximadamente, 365 dias e seis horas). Outro fenômeno astronômico importante é a rotação, o movimento do nosso planeta ao redor de seu próprio eixo. Ele leva 24 horas (um dia!) e estabelece os dias e as noites.

Agora, imagine um eixo cortando o planeta no sentido norte-sul. Esse eixo tem nome: é o eixo terrestre! Acontece que ele não está em uma posição perpendicular (ou seja, a 90 graus) em relação à linha descrita pela órbita do planeta ao redor do sol (a chamada órbita elíptica), mas em uma inclinação de aproximadamente 23°26‘. É justamente essa inclinação, com o planeta girando ao redor do sol ao longo do ano, que estabelece as estações!

No período de início de verão-inverno (ao redor de 22 de dezembro/21 de junho), um dos hemisférios está mais “iluminado” (ou seja, mais irradiado de luz solar), enquanto o outro está mais “sombreado” (menos irradiado de luz solar); neste momento, enquanto um hemisfério experimenta o dia mais longo, o outro experimenta o dia mais curto do ano. Quando aqui, no Hemisfério Sul, está começando o verão, lá, no Hemisfério Norte, está começando o inverno, e vice-versa.

No período de início de primavera-outono (ao redor de 23 de setembro/21 de março), os raios solares incidem perpendicularmente sobre a Linha do Equador, resultando em dias e noites de igual duração em todo o planeta. O fenômeno ocorre de forma aproximada, mas não é uniforme em todas as regiões devido a efeitos atmosféricos e à refração da luz solar.

E por que essas épocas são tão importantes?

Nascer do sol no monumento megalítico de Stonehenge, na Inglaterra, no solstício de verão (do Hemisfério Norte) de 2018.

As estações são tremendamente importantes em relação ao desenvolvimento da vida na Terra. E isso se explica, especialmente, por conta da luz solar, que é um elemento essencial para o desenvolvimento dos vegetais (e, por consequência, dos animais que deles se alimentam) e para toda a vida.

Isso justifica, ainda, toda a mitologia relacionada ao solstício de inverno do Hemisfério Norte – que tem uma conexão com o Natal e com deuses como o romano Mitras. Lá, o solstício (a que corresponde e se opõe, entre nós, o solstício de verão) marca o dia mais curto do ano e, por conseguinte, o início de dias mais longos. Segundo as antigas crenças religiosas, a “vitória da luz sobre a escuridão” e o renascimento da vida. Legal, né?

E nós, em muitas regiões do Hemisfério Sul, acabamos recepcionando (e até adaptando) essas celebrações de fim de ano por conta da História. A partir do século XV, com as chamadas Grandes Navegações, elas chegaram com as potências coloniais europeias, em especial no contexto religioso do cristianismo. O que, é claro, não significa que os povos que já viviam nesta região do globo não tivessem suas próprias tradições relativas às estações do ano.

Um exemplo? A “Inti Raymi” ou “Festa do Sol”, celebrada pelos incas em por volta de 21 de junho, na época do solstício de inverno do Hemisfério Sul; ela servia para chamar o Sol (o deus Inti) – que andava muito longe – para perto da Terra e, assim, dar início a um novo ciclo de vida e cultivo. Combatida e proibida pelos espanhóis ainda no século XVI, ela voltou a ser comemorada em tempos mais recentes e, hoje, é uma grande celebração entre os povos andinos!

Mulheres bolivianas dançam durante a celebração do Inti Raymi.